Com a presença de Nikki Haley e Ron DeSantis, rivais de Donald Trump nas prévias, o segundo dia da Convenção Nacional Republicana buscou passar a imagem de união após o atentado sofrido por Trump. Nikki Haley subiu ao palco entre vaias e aplausos e começou dizendo que Donald Trump tem “seu total apoio”. Ela defendeu que esse é um momento crítico para os Estados Unidos, que partido precisa se unir para salvar o país e direcionou o seu discurso, na terça-feira (16), para aqueles que não concordam totalmente com o líder republicano – o seu eleitorado. “Você não precisa concordar com Trump 100% do tempo para votar nele. Eu mesma nem sempre concordo, mas nós concordamos mais do que discordamos. Concordamos em manter o país forte, manter o país seguro, e concordamos que os democratas foram tanto para esquerda que nossas liberdades estão em risco”, disse.
Haley, que buscava o voto dos republicanos moderados, fez duras críticas a Donald Trump durante as prévias do partido e se recusou a declarar apoio a ele imediatamente após desistir da sua candidatura. Mesmo quando disse que votaria em Trump, destacou que era ele quem deveria convencer os seus eleitores, sinalizando que não pediria votos como fez esta noite. Em seu discurso, a ex-embaixadora dos EUA na ONU apontou as fragilidades de Joe Biden, que tem a aptidão para o cargo colocada em dúvida. E disse que Vladimir Putin não teria invadido a Ucrânia se os Estados Unidos tivessem um homem forte na Casa Branca, alegação que o próprio Trump repete com frequência.
Na mesma linha, o governador da Flórida Ron DeSantis se disse “alarmado que o presidente dos EUA não tem capacidade para as funções do seu gabinete”. DeSantis se elegeu apoiado por Trump, com quem rompeu quando começou a se projetar nacionalmente. Ele chegou a disputar a nomeação republicana este ano, mas desistiu ainda no começo das primárias. “Donald Trump foi demonizado. Ele foi processado. Ele quase perdeu a vida”, disse. “Não podemos decepcioná-lo.”
Enquanto Donald Trump recebia o apoio de seus rivais nas primárias, os antigos rostos do Partido, como o ex-presidente George W. Bush, seu vice Dick Cheney, e a filha dele Liz Cheney, ficaram de fora da convenção. O que reforça o domínio do trumpismo sobre os republicanos. A união do partido em torno da figura de Trump foi evidenciada na fala do senador Ted Cruz.
Ele abriu o seu discurso condenando o atentado ao comício do ex-presidente e pregando que “Deus abençoe Donald Trump”, antes de mudar de assunto para imigração. A declaração foi percebida pela imprensa americana como uma virada do texano. Eles disputaram a nomeação republicana em 2016 e, na Convenção Republicana daquele ano, Cruz declinou de apoiar Trump. “Vote com a sua consciência”, disse na última convenção que participou.
O tema da noite foi “Faça a América Segura de Novo” – alusão ao slogan trumpista “Make America Great Again” e imigração tem sido uma constante nos discursos. Embora as entradas na fronteira tenham caído nos últimos meses, os republicanos acusam o governo Biden de permitir uma “invasão” que o vetor da violência nos Estados Unidos.
Na plateia, cartazes distribuídos pela organização diziam “pare o banho de sangue na fronteira de Biden”. “Os problemas que nós enfrentamos, causados pelo partido democrata, são enormes, mas as soluções são muito simples. Primeiro, pare a “Bidenvasion” (algo como invasão de Biden) e construa o muro”, disse Kari Lake, candidata ao Senado pelo Estado fronteiriço do Arizona, antes de ser interrompida pelos gritos de “construa o muro, construa o muro” que ecoaram na multidão.
“O Estado do Grand Canyon se transformou no Estado do fentanil”, continuou. Apoiadora fervorosa de Donald Trump, ela acusou os democratas de entregarem a fronteira para os cartéis e alegou que “por causa dos deles, criminosos e drogas mortais estão entrando e as nossas crianças estão morrendo”. As drogas ilegais, contudo, chegam aos Estados Unidos em sua maioria por entradas legais, escondidas em carros, aviões e ônibus, de acordo com o Drug Enforcement Administration.
Na mesma linha, o senador da Flórida Rick Scott descreveu o que seria o “pesadelo” de mais quatro anos de governo democrata. “No meu pesadelo, Biden e os democratas apagaram nossa fronteira e trouxeram tantos ilegais para o nosso país que os cartéis mexicanos começaram a ganhar milhas.” Os republicanos repetiram as alegações infundadas de Donald Trump de que os democratas estariam fraudando o sistema eleitoral ao permitir que imigrantes votem.
Se na abertura da Convenção Republicana, a imigração permeou discursos voltados para economia, esta noite as prioridades foram invertidas e a fronteira foi o tema central. “Se você chegou aqui ilegalmente sob Joe Biden, você vai voltar para o lugar de onde você veio com Trump”, disse Jim Banks, deputado e candidato ao Senado por Indiana.
A política externa do governo Joe Biden também foi alvo de críticas na noite dedicada à segurança. Jim Banks atacou a saída das tropas americanas do Afeganistão. O acordo com o Taleban foi assinado por Donald Trump, mas a retirada ocorreu durante o governo democrata – e de forma caótica, marcada por imagens de afegãos desesperados pendurados aos aviões americanos na tentativa de fugir do país.
“Como veterano da guerra do Afeganistão, nunca me senti tão envergonhado como quando a retirada desastrosa de Joe Biden deixou 13 heróis americanos mortos”, disse Banks. “Joe Biden é uma vergonha”, continuou. “Passamos do presidente mais forte de minha vida, o presidente Trump, para o presidente mais fraco da história, Joe Biden.”
Em um dos momentos mais dramáticos da noite, Sam Brown, veterano da guerra no Afeganistão contou como foi queimado vivo e quase morreu depois que uma bomba do Talibã explodiu debaixo do seu veículo, em 2008. “Olhe para o meu rosto. Esse é o alto custo da guerra”, disse o candidato ao Senado que ficou com cicatrizes permanentes depois de quase morrer. “Se Joe Biden continuar na Casa Branca, mais militares vão pagar esse preço.”
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Carolina Ferreira
Fonte: jovempan
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