Em uma entrevista coletiva realizada nesta segunda-feira, 6, em Boa Vista, capital de Roraima, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, detalhou o que viu após uma visita ao território yanomami. O governo afirma que 180 comunidades da etnia, com aproximadamente 15 mil yanomamis em áreas de difícil acesso, ainda esperam por atendimento de saúde. Nesses locais só é possível chegar de helicóptero. Por dia, cerca de 35 pacientes são regatados em estado grave. Quem não pode permanecer em Surucucu, é levado para os hospitais de Boa Vista, onde já há registros de superlotação. Um terço das internações no Hospital da Criança de Boa Vista é de crianças yanomamis, 50 em atendimento e quatro na UTI. Além da desnutrição grave, os indígenas também sofrem com a malária. O governo disse que, até o final de semana, serão 25 equipes no território yanomami para fazer atendimentos nos debilitados pela doença.
A ministra Sonia Guajajara alertou também para o grave problema de contaminação da água: “O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome também está providenciando os equipamentos para a perfuração de poços artesianos e também para construir a estrutura de cisternas e distribuição de água. Nesse momento, é muito urgente o acesso à água potável para o povo yanomami beber dentro do seu território. Hoje, eles são impedidos por conta da presença do garimpo ilegal e a contaminação das águas, tanto pelo mercúrio, quanto de várias outras formas de sujeira que tem na água”. A diretora de promoção ao desenvolvimento sustentável da Funai, Lúcia Alberta Andrade de Oliveira, afirmou que a necessidade de um novo hospital de campanha é urgente.
“Nós precisamos fortalecer ainda mais a presença do Estado lá na região. Primeiro retirando os garimpeiros, depois mantendo essa presença mais firme e aumentando o atendimento de saúde na região de Surucucu. Precisamos urgentemente colocar em prática o que já foi determinado pelo nosso presidente, de instalar em Surucucu um hospital de campanha. A situação da saúde lá é muito grave, são muitos indígenas doentes, muitas mulheres e muitas crianças”, declarou a diretora da Funai. Segundo o Governo Federal, a crise humanitária que atinge o povo yanomami é causada principalmente pelo garimpo ilegal. A Funai afirma que até o envio de cestas básicas aos yanomamis pode ser suspenso porque os garimpeiros, que também estão sem comida, tentam trocar os alimentos por outros produtos. Por conta da presença da Força Nacional, do SUS e das Forças de Segurança, como a Polícia Federal, os garimpeiros tem fugido de áreas menores para garimpos maiores.
Segundo a ministra, pelo menos dois indígenas foram assassinados e outra morte dentro do território é investigada: “Há um trabalho de inteligência sendo feito. Há um planejamento do Ministério da Justiça, com o Ministério da Defesa. Porque essa é uma ação conjunta e interministerial (…) É claro que a gente não vai passar detalhe do que está sendo feito agora, porque vai inclusive atrapalhar a execução do plano de retirada dos garimpeiros. Temos informações de que muitos garimpeiros estão saindo. Isso não quer dizer que estão saindo porque estão arrependidos, estão saindo com medo”.
Com receio de uma onde de violência, Dinamam Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) pediu a retirada imediata dos garimpeiros da área: “Nós sabemos que uma força tarefa está sendo montada e que o governo está se mobilizando, mas nós clamamos nesse momento por uma maior agilidade, para que isso aconteça de fato e que esses garimpeiros sejam retirados de forma imediata. Essa insegurança que nós trazemos está para os indígenas, não só para as equipes de saúde. A limitação aérea que foi feita, o fechamento aéreo, está gerando um desabastecimento do garimpo e esses garimpeiros tem, de certa forma, pressionado as comunidades indígenas tentando culpá-los por esse fato estar ocorrendo”.
Fonte: jovempan
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