Recep Tayyip Erdogan, atual presidente da Turquia, venceu as eleições presidenciais deste domingo, 28, e ampliou por mais cinco anos sua hegemonia, iniciada em 2003. Até a publicação desta reportagem, 99,66% das urnas haviam sido apuradas, com Erdogan vencendo por 52,13% dos votos, contra 47,87% de seu adversário, o líder da oposição, Kemal Kilcdaroglu, que alcançou 47,87%. Antes mesmo da oficialização do resultado, o chefe de Estado turco discursou para apoiadores, falou em cumprir “todas as promessas” e criticou os adversários, ao dizer que “ninguém pode atacar as conquistas desta nação”. Como a Jovem Pan mostrou, analistas afirmam que o novo mandato do autocrata deve culminar em um endurecimento do regime. Os especialistas dizem que, desde que ele mudou o sistema de governo — saiu do parlamentarismo para presidencialismo —, virou “um grande autocrata” que diminui a independência das instituições, persegue jornalistas, militares, adversários políticos e professores.
“Se no início parecia um governo promissor, desandou e virou uma autocracia”, afirma Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Christopher Mendonça, cientista politico e professor de relações internacional do Ibmec Belo Horizonte, diz que o fundador do Partido da Justiça e Desenvolvimento “representa muito da extrema-direta porque é ligado a grupos religiosos e com o pensamento de que a religião e os costumes são importantes nas decisões políticas”. Indicado por seis partidos, o oposicionista Kemal Kilcdaroglu chegou a ser apontado como favorito às vésperas do primeiro turno, mas perdeu tração na reta final e chegou ao último dia de eleição como azarão. O resultado já era esperado depois que o conservador de 69 anos superou as pesquisas, saiu na frente do pleito realizado no dia 14 de maio e, na última semana da campanha eleitoral, recebeu o apoio do terceiro colocado, o ultranacionalista Sinan Ogan. A reeleição de Erdogan faz com o país se encaminhe para um endurecimento do regime.
Em seu novo mandato, Erdogan vai ter que lidar com um país mais dividido — esta foi a eleição mais difícil que ele já enfrentou e a primeira que a oposição se aproximou da vitória. Dentre os principais problemas estão a crise econômica, questão dos refugiados e a cisão entre os blocos do Ocidente (liderado pelos Estados Unidos e apoiado pela União Europeia) e do Oriente (que tem a China como centro e a Rússia como apoiadora). Márico Schettino, professor de relações internacionais da UFMG e do Ibmec, alerta que qualquer decisão tomada em Ancara sobre os refugiados afeta diretamente a UE. A Turquia é o país que mais os abriga no mundo. Segundo a Acnur (Agência da ONU para Refugiados), são 3,7 milhões, um número alto sobretudo porque o país impede que as pessoas vítimas de tráfico sigam para a Europa. De acordo com Schettino, a vitória de Erdogan fará com que o país “caminhe para uma centralização maior do poder no atual chefe de Estado, postura mais autônoma nas questões internacionais, além de uma proximidade com Rússia e China”.