O segundo turno das eleições estaduais e presidencial fez com que parte dos governadores já eleitos – e os que ainda disputam cargos no segundo turno – se posicionassem e declarassem explicitamente votos tanto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto ao atual mandatário Jair Bolsonaro (PL). Somados, ambos tiveram mais de 108 milhões de votos. Desde o primeiro domingo do mês de outubro, quando foram finalizadas as disputas em primeiro turno, os governadores eleitos Gladson Cameli (PP), do Acre; Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal; Mauro Mendes (União Brasil), do Mato Grosso; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ratinho Jr (PSD), do Paraná; Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro; Antonio Denarium (PP), de Roraima; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Wanderlei Barbosa (Republicanos), de Tocantins, optaram pela continuidade do governo federal. Já Elmano Freitas (PT), do Ceará; Carlos Brandão (PSB), do Maranhão; Rafael Fonteles (PT), do Piauí; Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte; do Helder Barbalho (MDB), do Pará; e Clécio Luís (Solidariedade), do Amapá, preferem o retorno de Lula ao comando do Planalto. No entanto, nos pleitos estaduais que ainda encontram-se em disputa, há parte dos candidatos que precisam buscar eleitores de outro espectro ideológico e que preferem não expor seu voto a fim de receber tanto eleitores lulistas quanto bolsonaristas e de centro. A equipe de reportagem da Jovem Pan realizou um levantamento dos nomes que ainda não se posicionaram e buscou explicações do porque este aceno não foi realizado.
Em Pernambuco, após a apuração completa as urnas eletrônicas, o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) computou um total de 20,58% dos votos para Raquel Lyra (PSDB), sendo 1.009.556 de eleitores, atrás de Marília Arraes (Solidariedade) com 23,97% e 1.175.621 votos. No dia 2 de outubro, data em que a primeira etapa do pleito ocorreu, a tucana lidou com o óbito do marido que sofreu um mal súbito e faleceu no dia em que definiu-se a disputa pelo governo pernambucano. Assim que o turno definitivo se iniciou, a corrida pelas alianças se iniciaram e Arraes passou a atrelar a sua imagem com a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), junto com o prefeito de Recife, João Campos (PSD) – com quem havia rompido após as eleições municiais da capital pernambucana em 2020 – em busca do voto do eleitor lulista. Lyra, no entanto, preferiu abster-se de manifestar a sua preferência no âmbito federal e não expôs seu voto para as eleições presidenciais. Mesmo acusada por Marília de apoiar o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL), Raquel tangenciou após ser cobrada por uma declaração em um debate entre as candidatas promovido pela Rádio Jornal. “Não tente dividir Pernambuco, nós vamos unir. Eu não vou declarar apoio a presidente da República. Eu não estou aqui para construir muros, eu estou aqui para construir pontes. Vou debater não só os problemas, mas, sobretudo, falar sobre soluções para o nosso estado”, disse a tucana. Com as associações realizadas por Arraes, o TSE determinou que a Lyra tem direito a utilizar cinco minutos da propaganda eleitoral gratuita por “tentativa de associação de imagem”. A desembargadora eleitoral auxiliar do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, Virgínia Gondim Dantas, argumentou que as acusações de Arraes são capazes de “criar estado mental e passional de vinculação da candidata Raquel ao presidente Bolsonaro, que, repise-se, não encontra respaldo na realidade do momento vivenciado e nem nas reportagens carreadas, sobretudo diante do acirramento do certame eleitoral no âmbito nacional, com reflexos na política estadual”.
Embora o eleitorado pernambucano que votou no ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno presidencial – 65,27% dos eleitores, sendo 3.558.322 votos – tenha uma tendência a votar em Marília Arraes (Solidariedade), já que a candidata é apoiada pelo petista e foi às ruas com o líder do Partido dos Trabalhadores durante campanha, Lyra segue em busca do eleitor de centro e que não se identifica com as bandeiras lulistas. Os demais candidatos ao governo estadual que não optaram por Arraes e Lyra tiveram votações semelhantes. Anderson Ferreira (PL), apoiado pelo governo federal ao governo estadual, contabilizou 890.220 votos (18,15%); Danilo Cabral (PSB) teve 885.994 votos (18,06%); e Miguel Coelho (União Brasil) obteve 884.941 votos (18,04%). É em busca desses eleitores que Lyra está em busca, que não necessariamente optaram em votar no presidente Jair Bolsonaro (PL), já que o chefe do Executivo teve 29,91% da preferência do eleitorado com 1.630.938 votos e a somatória dos outros três nomes ao governo de Pernambuco somam 2.661.155 votos. Essa seria uma explicação do porque Raquel Lyra não explicita um apoio formal ao presidente da República, visto que parte dos eleitores pernambucanos em disputa não optaram pelo presidente da República no primeiro turno, ou seja, um eleitor direcionado ao centro.
Em movimento semelhante ao que se desenha no Pernambuco, a disputa acirrada no Rio Grande do Sul também obrigada um dos candidatos a buscar votos entre o eleitorado indeciso e de centro – ainda que no sentido oposto. Se na disputa pernambucana o antipetismo é a saída para Raquel Lyra, no Estado gaúcho o antibolsonarismo e a associação ao Partido dos Trabalhadores é a chance de Eduardo Leite (PSDB) virar a disputa local e garantir o único governo da legenda tucana nas eleições de 2022. Entretanto, essa associação Lula-Leite é feita de forma velada e o candidato do PSDB tenta, a todo custo, se posicionar de forma neutra, desvencilhando sua eleição da disputa nacional e se esquivando de tomar uma posição. “Não preciso ser medido, nesta eleição, por essa régua estreita da polarização nacional, pois eu tenho serviço prestado, eu tenho uma história, uma trajetória com 18 anos de vida pública. Na eleição passada ainda me apresentava à população gaúcha, mas agora as pessoas me conhecem muito bem, sabem como a gente age e faz política”, disse o ex-governador em 6 de outubro. “Chegamos ao segundo turno superando a polarização, com a força de um projeto que colocou o Estado no rumo, sem nos pendurarmos num candidato A ou B no cenário nacional”, também defendeu o tucano, assumindo posição de neutralidade na segunda etapa de votação. Em 2018, quando foi eleito governador do Estado, Eduardo Leite se consolidou como “apoio crítico” ao presidente Jair Bolsonaro no segundo turno, defendendo a candidatura do então deputado federal por “por não haver hipótese” de apoiar o PT. “(O PT) foi um caminho que quebrou o Brasil, gerou desemprego. Por essa exclusão, estamos dispostos a construir com a candidatura de Jair Bolsonaro”, completou o candidato, no pleito passado.
Por sua vez, neste ano, a estratégia de Eduardo Leite da neutralidade se baseia em angariar votos bolsonaristas e desidratar Onyx Lorenzoni (PL) no segundo turno, ao mesmo tempo que garante votos do eleitorado anti-Bolsonaro no Estado e que amplia a rejeição ao ex-ministro do Trabalho e da Previdência, braço direito do presidente da República. No primeiro turno, apesar das principais pesquisas mostrarem vantagem consolidada do PSDB na corrida ao Palácio Piratini, o ex-governador amargou na segunda posição, com 26,81% dos votos, o que representa 1.7 milhões de eleitores. O resultado representou vantagem de apenas 2,8 mil votos na comparação com o terceiro colocado, Edegar Pretto (PT), que ficou com 26,77%. Por sua vez, em primeiro lugar, Onyx chegou a 37,50% dos votos – uma vantagem de 10,69 pontos percentuais -, o que representa quase 700 mil votos a mais que o adversário tucano. Em suma, ainda que com uma associação velada, o entendimento é que uma união com a figura do ex-presidente Lula é, de fato, a única e melhor alternativa para Eduardo Leite conseguir uma vitória no Estado. Entre aliados e apoiadores, a expectativa é que os votos de Edegar Pretto migrem naturalmente para o tucano, ampliando a vantagem de Leite frente ao adversário em 1,7 milhões de votos, embora o petista deixe em aberto apoio ao candidato. Da mesma forma, o ex-governador também espera atrair eleitores de Vicente Bogo (PSB), Vieira da Cunha (PDT), Rejane de Oliveira (PSTU), Carlos Messalla (PCB) candidatos derrotados no Estado cujo legendas declararam apoio à Lula no segundo turno