Os Estados Unidos estão perto de realizar algo inédito: a execução de uma pessoa transgênero. Amber McLaughlin, 49 anos, foi condenada à morte por homicídio, com aplicação da pena prevista para esta terça-feira, 3, no estado do Missouri, no centro dos Estados Unidos. Ela responde por um assassinato cometido antes de sua transição de gênero. McLaughlin deve receber uma injeção letal. Contudo, ainda há chances disso não acontecer, porque, é necessário que o governador do estado lhe conceda o indulto, mas se isso não acontecer, se tornará a primeira pessoa transgênero de qualquer sexo a morrer pela pena capital no país, e também a primeira pessoa executada em 2023. Desde que assumiu o cargo em 2018, o governador Mike Parson jamais concedeu um pedido de clemência. O crime pelo qual McLaughlin responde, foi cometido em há 20 anos, quando matou uma ex-namorada em um subúrbio da cidade de Saint Louis. Sem aceitar a separação, McLaughlin já havia assediado sua ex-companheira até o ponto em que ela, chamada Beverly Guenther, precisou recorrer a medidas de proteção na Justiça.
No dia do crime, McLaughlin a esperou na saída do trabalho com uma faca de cozinha. Guenther foi estuprada e esfaqueada e seu corpo foi lançado no rio Mississippi. Ao final do julgamento em 2006, um júri considerou McLaughlin culpada de homicídio, mas não conseguiu chegar a um consenso sobre a sentença. O juiz de primeira instância interveio e impôs a pena de morte, o que é permitido nos estados de Missouri e Indiana. Sob a alegação de que o júri não a condenou à morte, a defesa pediu ao governador Mike Parson que comutasse sua sentença para prisão perpétua. “A pena de morte considerada aqui não reflete a consciência da comunidade, mas de apenas um juiz”, argumentaram os advogados em seu pedido de clemência, que também aponta que McLaughlin teve uma infância difícil e apresenta transtornos psiquiátricos. Sua solicitação obteve o apoio de pessoas de alto perfil, incluídos dois integrantes do Missouri na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Cori Bush e Emanuel Cleaver.
Em uma carta ao governador, os advogados disseram que o pai adotivo de McLaughlin costumava espancá-la com um porrete e também a eletrocutava. “Além desses abusos horríveis, ela lidou em silêncio com questões de identidade de gênero”, escreveram. Segundo reportagens da imprensa, McLaughlin começou sua transição de gênero nos últimos anos, mas permaneceu reclusa na seção masculina do corredor da morte no Missouri. De acordo com o Centro de Informação sobre a Pena de Morte (DPIC, na sigla em inglês), que busca abolir essa punição nos Estados Unidos, não há registro de execução de uma pessoa abertamente transgênero no país. No entanto, o tema tem chamado mais a atenção nos últimos meses: a Suprema Corte de Ohio confirmou uma sentença de morte contra uma mulher transgênero e o estado de Oregon, segundo o DPIC.
*Com informações da AFP