Em meados de 1889, a febre amarela surgia em Campinas e castigou ex-escravos, pobres e imigrantes e afugentou os mais ricos da cidade que estava no seu auge, competindo com a desenvoltura de São Paulo. Escritor e historiador, Jorge Alves de Lima contou sobre as epidemias da doença em entrevista exclusiva à Jovem Pan. Figura ilustre, escreveu três obras sobre o surto da febre amarela: “Ovo da Serpente” (epidemia de 1889), “O Retorno da Serpente” (epidemia de 1890) e “A Serpente espreita Campinas” (1891).
Como um bom historiador, Jorge trouxe o primeiro surto de sete ao total. Descrito como o mais violento, o escritor conta que tudo começou quando uma jovem professora chamada Rosa Beck, que morava em Paris, conheceu um brasileiro que estava fazendo faculdade de medicina na cidade e se apaixonaram. Com muitas saudades do seu amado, Rosa veio ao Brasil e fez uma parada no Rio de Janeiro, onde o surto já havia se alastrado. Picada pelo até então desconhecido mosquito, a professora partiu para Campinas. Ao chegar na cidade, Rosa já estava muito doente e faleceu após dois dias. Para não alarmar a situação para a população, enterraram o corpo clandestinamente.
Para Jorge Alves Lima, que também é membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp, o dia 18 de abril de 1889 dá um retrato de como a febre amarela aterrorizou a cidade. “Sobraram poucos habitantes, não mais do que 5 mil, e somente nesse dia 58 morreram”. De acordo com o historiador, com o avanço da doença, Campinas estava praticamente destruída, “o governo chegou a cogitar até em mudança geológica, pois acreditavam que a doença estava sendo transmitida pela terra. Por isso, optavam por piche mole obtido a partir da destilação do de barricões de alcatrão. Conforme o fogo se espalhava, muitas pessoas morreram por asfixia e doenças pulmonares”.
Campos Sales, antes da posse, conheceu o médico sanitarista, Emílio Ribas e o engenheiro sanitarista, Saturino de Brito, que foram essenciais para a ajudar a cidade. Juntos, enfatizaram a necessidade da limpeza nas ruas de Campinas. “Foi uma intuição muito grande”, afirma Jorge. Aos poucos, a cidade foi ressurgindo, “moradores regressaram, comércio começou a se movimentar, imigrantes italianos deram um grande força também”, completou o historiador. Com o seu próximo lançamento no radar, Jorge contou que sua nova obra “Campinas 1892” retrata o dia a dia dos campinenses em meio ao surto.
Fonte: jovempan
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