O Reino Unido tem um novo rei! Charles III assumiu, aos 73 anos, o trono britânico após a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II, na quinta-feira, 9. A oficialização de seu mandato foi realizada no sábado, às 10h (6h de Brasília). Entretanto, a cerimônia de coroação acontecerá em uma data que ainda será definida. Elizabeth II teve que esperar mais de um ano antes do evento oficial que a tornou rainha. O ex-príncipe é a pessoa mais velha a se tornar rei e tem uma missão difícil pela frente, a começar por sua aceitação, já que, ao longo dos anos, se mostrou uma figura controversa, desde sua infidelidade — quando esteve casado com a princesa Diana —, passando por supostas interferências políticas, até gafes e escândalos envolvendo seus ajudantes. Ser aceito como rei “vai ser difícil, aconteça o que acontecer”, considerou em 2021 a escritora da realeza Penny Junor, após a eclosão de um escândalo envolvendo a entrega de honrarias em troca de dinheiro para a caridade. Charles III também já foi criticado por sua indiferença e é uma figura impopular. “Será muito difícil para ele tomar o lugar da rainha. É provável que a monarquia viva momentos difíceis”, previu Robert Hazell, professor de direito constitucional da University College London, à APF.
Daqui para frente, o monarca terá que manter uma neutralidade férrea. Cada uma de suas palavras será analisada, e Charles tem consciência disso. Em 2018, em entrevista à BBC, ele afirmou: “Não sou tão estúpido”, quando questionado sobre a mudança de postura quando assumisse o trono britânico. Hazell acha complicado ele se manter neutro, principalmente por causa dos problemas que o Reino Unido enfrenta, sendo um deles o movimento independentista na Escócia. Por outro lado, o professor ressalta o “forte senso de serviço público e dever público” do novo monarca. Mas esses não são os únicos desafios. Ele assume o Reino Unido em um momento em que o país está passando por problemas econômicos — teve a maior inflação nos últimos 40 anos —, com ritmo de crescimento muito baixo e risco de recessão, além da possibilidade de reunificação das Irlandas. “Charles III enfrenta um momento que desafia a estabilidade do continente. São vários desafios, tanto internacionais como dentro da própria estrutura do Reino Unido”, diz Igor Lucena, doutor em relações internacionais, em entrevista ao portal Jovem Pan.
Em seu primeiro pronunciamento oficial como rei, ele se mostrou disposto a seguir os passos da mãe. “Renovo diante de vocês este compromisso de serviço durante toda a vida”, disse Charles, prestando uma forte homenagem à “vida de serviço” de rainha Elizabeth II. Lucena diz que este é um ótimo começo, pois “o Reino Unido precisa na prática de um rei que siga a antiga monarca”. Ele lembra que, nos últimos anos, Charles III já vinha adotando uma postura diferente da habitual e que ele tem “sido uma pessoa bastante comedida com as suas visões políticas”, se aproximando do que a mãe fazia. O doutor em relações internacionais também pontua que se espera que o rei se posicione “acima das discussões de esquerda e direita” e “defenda os interesses do Reino Unido”.
Nascido em 1948, Charles III se casou em 1981 com Diana Spencer, com quem teve dois filhos, William e Harry, antes do fim do casamento e das revelações públicas sobre sua infidelidade, que levaram ao divórcio. Após a morte trágica de Diana, em 1997, em um acidente de carro em Paris, perseguida por paparazzi, Charles se casou com a antiga amante Camilla Parker Bowles, em 2005, que agora se torna rainha consorte do Reino Unido — ela já declarou que não quer o título. Como este era um desejo de Elizabeth II, Parker pode se render. Em fevereiro de 2022, por ocasião dos 70 anos de reinado, Elizabeth expressou o desejo de que Camila fosse nomeada “rainha consorte”. Durante muito tempo a família real indicou que ela seria tratada apenas como princesa para não escandalizar a opinião pública. Charles III inicia seu reinado muito menos querido pelos britânicos que a mãe. Uma pesquisa do instituto YouGov de 2021 mostrou que pouco mais de um terço dos entrevistados acreditava que ele seria um bom rei, enquanto mais de 70% tinham uma opinião favorável à rainha. Isto pode reavivar as esperanças dos partidários do fim da monarquia em favor de uma república, uma ideia apoiada por apenas 15% dos britânicos nos últimos anos.
Lucena aponta que o fim da coroa não é algo provável, porque Elizabeth II “deixou um claro legado de que a monarquia é uma instituição de estado e não de governo” e que “serviu como espécie de farol na estabilidade da defesa dos interesses nacionais”. Contudo, o diretor do movimento Republic afirma que Charles “não está protegido pela mesma aura quase impenetrável da rainha”. Para manter a instituição, Hazell acredita que é “concebível” que Charles abdique em favor de seu filho William, nascido em 1982 e muito popular, uma opção que sempre foi rejeitada por Elizabeth II. A possibilidade de Charles III se render divide opiniões. Enquanto existem aqueles que acreditam que esse é um cenário provável e o mais recomendado, há quem defenda o novo rei à frente do trono britânico. Lucena é um deles: ele diz que as especulações sobre o rei abdicar do trono são “infundadas” porque ele esperou 70 anos para assumir a posição. Contudo, o especialista pontua que, como o reinado não vai ser tão longo como o de sua mãe, devido à idade avançada de Charles, somado ao faro de ele não ter a melhor das popularidades, a ascensão de William pode ser utilizada como um “espécie de carta, a última na manga da família real”. “William é a real renovação e simbolismo de uma pessoa nova no trono, o que, infelizmente, Charles não é.”
Fonte: jovempan
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