O massacre ocorrido em Bucha, cidade ucraniana que fica a 37 quilômetros da capital Kiev, aumentou as acusações sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia e fez com que representantes dos países ocidentais e da União Europeia se manifestassem sobre o ocorrido e intensificassem as medidas que já foram impostas a Vladimir Putin em decorrência da invasão à Ucrânia que já dura mais de um mês. “As informações que estão chegando desta região e de outras apresentam perguntas graves e preocupantes sobre possíveis crimes de guerra e infrações graves do direito internacional humanitário, assim como graves violações dos direitos humanos”, destacou a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.
A União Europeia, que até agora só se comprometeu em reduzir as importações de energia russa, ficou de se reunir ainda essa semana para decidir a nova série de medidas contra Moscou. Em nota, Josep Borrell, principal diplomata da UE, declarou que a vão “continuar a apoiar firmemente a Ucrânia e avançar com urgência no desenvolvimento de novas sanções contra a Rússia”. Ele também responsabilizou as autoridades da Rússia pelas atrocidades cometidas na região de Bucha quando estavam controlando a região. Emmanuel Macron, presidente da França, está de acordo com a aplicação de mais sanções. Em entrevista à uma rádio francesa, ele informou que há indícios de crimes de guerra e declarou que “o que aconteceu exige uma nova rodada de sanções e medidas muito claras”.
Olaf Scholz, chanceler alemão, informou no domingo, 3, que as novas medidas vão ser decididas nos próximos dias, e seu ministro da Defesa falou sobre a possibilidade de cortar a importação de gás russo, um dos grandes trunfos das negociações de Moscou. A decisão de impor sanções sobre o gás russo é um assunto que divide as opiniões. O ministro das Finanças da Áustria, Magnus Brunner, descartou apoiar ações que visem esses dois recursos. “Somos muito dependentes do gás russo, e acho que todas as sanções que nos atingem mais do que os russos não seriam boas para nós”, disse a repórteres antes de uma reunião do Eurogrupo. “É por isso que somos contra as sanções no setor de petróleo e gás”. O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, pediu a criação de uma comissão de investigação internacional sobre o “genocídio”, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse que seu país vai “fazer todo o possível para que aqueles que cometeram crimes de guerra não fiquem impunes”.
Os pronunciamentos não ficaram só pela Europa. Os Estados Unidos também se manifestaram sobre o massacre na cidade de Bucha, onde dezenas de corpos de civis foram encontrados largados nas ruas, alguns com as mãos amarradas. O presidente norte-americano, Joe Biden, disse a jornalistas que deve haver “um julgamento por crimes de guerra” e voltou a chamar o presidente russo, Vladimir Putin, de criminoso de guerra. Em visita a Romênia para ver como o país lida com o fluxo de refugiados, a embaixadora de Washington nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse que “em próxima coordenação com a Ucrânia e outros Estados membros e parceiros da ONU, os Estados Unidos irão buscar a suspensão da Rússia”, garantiu. “Não podemos permitir que um Estado membro que está subvertendo todos os princípios que estimamos continue sendo parte”, acrescentou.
Para suspender a participação de um país do Conselho de Direitos Humanos, é necessário o voto favorável de dois terços dos países que se manifestarem (pelo sim ou não), na Assembleia Geral da ONU, dentro de um total de 193 nações. “A Rússia não deveria ter uma posição de autoridade neste corpo, nem deveríamos permitir a eles que usem sua posição no Conselho como ferramenta de propaganda para sugerir que têm uma preocupação legítima sobre direitos humanos”. A Rússia está em seu segundo ano de um mandato de três anos. “Achamos que é hora da Assembleia Geral da ONU votar para removê-la”. Durante sua fala, Thomas-Greenfield fez um pedido para os países. “Minha mensagem para os 140 países que corajosamente se uniram é: as imagens de Bucha e a devastação na Ucrânia nos forçam a combinar nossas palavras com ação”.
Após retomar o controle da cidade de Bucha, soldados ucranianos encontraram cerca de 300 corpos de civis largados nas ruas. Alguns tinham as mãos amarradas, mostrando execuções extrajudiciais por tropas russas. O Kremlin nega que tenha cometido tal crime, alegando que há sinais de “falsificações nos vídeos” e de “fakes” nas imagens apresentadas pelas autoridades ucranianas como provas de um massacre atribuído à Rússia. “Com base no que vimos, não é possível confiar nestas imagens de vídeo”, afirmou Peskov, antes de acrescentar que “esta informação deve ser seriamente questionada”.
O presidente Volodymyr Zelensky condenou o ocorrido na cidade e chamou os soldados russos de “assassinos, torturadores, estupradores e saqueadores” e disse que eles “merecem apenas a morte depois do que fizeram”. Nesta segunda, ele esteve na região para ver a situação da cidade e denunciou os crimes de guerra cometidos pelas tropas da Rússia. “Milhares de pessoas assassinadas e torturadas, com membros decepados, mulheres estupradas e crianças assassinadas”, declarou à imprensa. “Todos os dias, quando nossos combatentes entram e recuperam um território, eles veem o que acontece […] São crimes de guerra e serão reconhecidos como genocídio”, disse Zelensky.