22 de Novembro de 2024

Joice critica aprovação da PEC dos Precatórios e vê ‘assalto ao povo brasileiro’


A aprovação da PEC dos Precatórios em primeiro turno desencadeou um clima de guerra no Congresso Nacional. Depois de conquistar 312 votos, quatro a mais do que os 308 necessários, o governo Bolsonaro trabalha para manter o apoio para a segunda votação de terça-feira, 9. Dirigentes e líderes de partidos de centro e da oposição, como é o caso do PDT, por exemplo, querem reverter o quadro para enterrar a proposta que abre espaço fiscal para o pagamento do Auxílio Brasil, adia o pagamento de dívidas da União reconhecidas pela Justiça e fura o teto de gastos. Há, ainda, a via da judicialização. Um grupo de parlamentares, capitaneado pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), apresentou um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar cancelar a sessão da última quarta-feira, 3. Eles questionam o ato do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e da Mesa Diretora que permitiu que deputados licenciados votassem.

À Jovem Pan, Joice criticou o que chamou de “PEC da compra de votos” e a pressão exercida pelo governo para angariar os 308 votos necessários. O Palácio do Planalto prometeu liberar emendas represadas e ameaçou segurar o repasse a parlamentares que votassem contra a proposta. “A emenda de relator é uma excrecência, é um absurdo. É um assalto ao povo brasileiro, um assalto à mão armada”, resume. Hasselmann também falou sobre as eleições de 2022, o futuro político do governo Bolsonaro, do qual já foi líder no Congresso Nacional, e criticou a parte da bancada do PSDB, seu futuro partido, que votou a favor da PEC dos Precatórios. “Foi uma derrapada feia do PSDB”, analisa. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Minutos depois da aprovação da PEC, a senhora foi ao Twitter e escreveu que aquele foi o dia que a Câmara mais a envergonhou desde que foi eleita. Por quê? Foi algo que eu nunca tinha visto. Foi uma jogada tão suja com o povo brasileiro e suja dentro da própria Câmara. Dinheiro sendo derramado, pressão e ameaça. É um cofre de R$ 100 bilhões de dinheiro público para que o presidente Bolsonaro compre votos dos mais pobres, deixando uma conta impagável para os próximos presidentes. Da maneira como as contas públicas estão sendo tratadas, só vamos resolver em 30 anos. Eu fiquei envergonhada. Um interlocutor do governo me procurou [para tentar me convencer a votar a favor da PEC], mas não dei espaço para conversa. Disse “não me peça para dar um tiro na cabeça do povo brasileiro”.

O governo prometeu liberar emendas represadas e ameaçou segurar emendas de quem votasse contra a PEC… Foi muito feio. Partidos que militam pelo combate à corrupção, siglas de oposição, venderam seus votos em feira livre. O governo ofereceu R$ 15 milhões por voto de deputado do baixo clero. Mas quando é do alto clero, quando é líder, oferecem muito mais. É uma negociata que destrói a economia brasileira, aumenta a inflação, aumenta a pobreza. Fiz um discurso àqueles que se colocam como defensores do Brasil, mas que votaram a favor da PEC, como a maioria do Podemos, a maioria do PSDB, exceto os deputados de São Paulo, para que possamos corrigir isso na segunda votação. Como não espero as coisas acontecerem, entrei no Supremo com um mandado de segurança, porque a sessão foi recheada de cambalhotas regimentais. O artigo 235 do regimento é claro: deputados em missão oficial estão licenciados. Ponto. Não existe isso. Quando o ministro quer votar, ele renuncia ao cargo, reassume o mandato de deputado e vota. Não vota lá da Esplanada dos Ministérios. O que aconteceu foi uma excrecência. Acredito que o STF irá cancelar essa sessão, espero que haja uma liminar na segunda-feira.

As emendas de relator, as RP-9, foram criadas depois do período em que a senhora esteve na liderança do governo no Congresso. O que a senhora pensa deste ‘Orçamento secreto’? Se acabassem com a emenda de relator e fizessem um pouco de economia, veriam que dá para pagar o Bolsa Família sem a aprovação. A emenda de relator é uma excrecência, é um absurdo. É um assalto ao povo brasileiro, um assalto à mão armada. Falando como cidadã, me sinto coagida. É algo que não se faz. O dinheiro público tem que ir para onde precisa, não para firula de deputado que lambe as botas do governo. Há locais em que o dinheiro não chega. Não tem saúde, educação, as pessoas passam fome. Mas, em alguns redutos, só falta fazerem asfalto de ouro. Quem governa o Brasil é o Centrão. Eles tiram o que querem. Sozinho, Bolsonaro não consegue nada. O governo não existe. Como eu já disse à própria Jovem Pan, o Bolsonaro paga aluguel para se manter presidente. Ele paga o que for: 15, 20, 30 milhões de reais. Tem deputado que exigiu R$ 180 milhões.

A senhora acredita na rejeição da PEC em segundo turno? Estamos trabalhando forte, buscando deputado a deputado. Foi um resultado muito ruim para quem votou a favor da PEC, do ponto de vista da repercussão. Temos, sim, possibilidade de rejeitar no segundo turno. Acho pouco provável que alguns parlamentares do Podemos, do PDT, do PSB e até do PSL, que estão sendo cobrados, mantenham seus votos. Não dá para falar de combate à corrupção da boca para fora e engolir a corrupção da boca para dentro. A pressão popular e a pressão da imprensa podem modificar o resultado.


Fonte: jovempan

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