O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu nesta segunda-feira (8) ao seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que continue no cargo “por enquanto” para manter a credibilidade da França, depois do fracasso da sua aposta de antecipar as eleições para desbloquear a situação política. O presidente de centro-direita chocou a França com a antecipação inesperada das eleições legislativas após a vitória da extrema direita nas eleições europeias de 9 de junho, visando pedir um “esclarecimento político” aos eleitores. Os eleitores responderam concedendo uma nova relação de forças aos três blocos surgidos das eleições de 2022: esquerda, centro-direita e extrema direita. No entanto, nenhum alcançou a maioria absoluta de 289 deputados. A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) obteve entre 190 e 195 deputados, seguida pela aliança de centro-direita de Macron (pelo menos 160) e pelo partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (143). Estes resultados e os vetos cruzados entre o partido no poder e A França Insubmissa (LFI), ala radical e principal partido do NFP, complicam a formação de um novo governo, 18 dias antes dos Jogos Olímpicos de Paris. Diante da incerteza, o presidente pediu ao seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que apresentou a sua renúncia, que continue no cargo “por enquanto” para “garantir a estabilidade”.
Os líderes de esquerda garantiram, no entanto, que estão prontos para governar e o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, defendeu que o NFP apresente um candidato a primeiro-ministro “ao longo da semana”, escolhido “por consenso ou por voto”. Mas para permanecerem no poder precisam de uma maioria e, dentro desta coalizão que vai desde social-democratas até anticapitalistas, os seus membros discordam sobre possíveis alianças parlamentares. O líder da LFI, Jean-Luc Mélenchon, cristaliza algumas das tensões. Embora a possibilidade de ser primeiro-ministro gere rejeição, a deputada Mathilde Panot ressaltou que ele não está “de forma alguma desqualificado”. “Teremos que nos comportar como adultos”, alertou no domingo Raphaël Glucksmann, símbolo da ala social-democrata do NFP, para quem o “diálogo” é “uma mudança de cultura política” em uma França desacostumada ao parlamentarismo. O partido de direita Os Republicanos (LR), que conseguiu manter cerca de 60 deputados depois de uma parte ter feito um acordo com a extrema direita, já garantiu que “não haverá coalizão nem compromisso” de sua parte.
Depois de uma campanha tensa, na qual Macron acusou a LFI de ser “antissemita” e “antiparlamentar”, a sua aliança prefere uma coalizão de forças “republicanas”, sem o RN ou o partido de Mélenchon. O programa do NFP também inclui várias linhas vermelhas para a aliança governante e a direita, como a revogação da impopular reforma da Previdência de 2023 e a aprovação de um imposto sobre grandes fortunas. Em meio ao limbo político, o ministro da Economia, Bruno Le Maire, alertou contra o risco de “crise financeira” e “declínio econômico”, e a principal associação patronal francesa, Medef, pediu ao próximo governo “uma política econômica clara e estável”. A Bolsa de Paris fechou nesta segunda-feira (8) com queda de 0,63%. Mas um novo governo ainda pode levar algum tempo para chegar. Macron anunciou que, antes de nomear um novo primeiro-ministro, vai esperar para ver como estará “estruturada” a Assembleia Nacional (câmara baixa), que será instalada em 18 de julho. Isolada e derrotada graças à “frente republicana” que a esquerda e a aliança governista teceram no segundo turno, a extrema direita poderá se tornar a principal força de oposição.
“A maré está subindo. Desta vez não subiu o suficiente, mas continua a subir e, como resultado, a nossa vitória apenas foi adiada”, alertou a sua líder, Marine Le Pen, que espera tornar-se presidente da França em 2027. O seu protegido Jordan Bardella, que foi projetado como primeiro-ministro, presidirá o novo grupo de extrema direita no Parlamento Europeu, “Patriotas pela Europa”, lançado pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. As eleições foram acompanhadas de perto fora da França, especialmente quando esta potência nuclear e a segunda maior economia da UE é uma das forças motrizes da integração europeia e uma aliada da Ucrânia na sua guerra contra a Rússia. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comemorou que a França “rejeitou o extremismo”. A Presidência russa disse não ter “nem esperanças nem ilusões” sobre uma melhoria nas relações com Paris.
Publicado por Luisa Cardoso
*Com informações da AFP
Fonte: jovempan
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