28 de Setembro de 2024

'Minha ceia vai ser só arroz e feijão'


Na geladeira, apenas duas caixas de leite quase vazias, potes de margarina no final e algumas garrafas d'água. Diante da situação, Elizabete dos Santos, 62 anos, se vira como pode para colocar comida não só no próprio prato, mas dos seis netos pequenos e do filho Welton dos Santos, 38 anos, que tem deficiência física. A menos de um mês do Natal, o cardápio da ceia não deve ser muito diferente do mesmo que tem sido servido nos últimos meses. "Vou ter só arroz e feijão mesmo. Nos outros anos, eu trabalhava. Sobrava um dinheirinho para comprar uma coisinha no Natal. Este ano não vou ter", lamenta a mulher, limitada depois de dois infartos e quatro hérnias de disco.

A situação dela é semelhante a de muitos dos seus vizinhos do Condomínio Chácara das Flores, no Fortunato Rocha Lima. Há cerca de cinco anos, as famílias em situação de vulnerabilidade de toda essa região são assistidas pelo Esquadrão do Bem e recebem uma cesta básica todo mês. O que antes era apenas um auxílio, virou principal recurso de alimentação de muita gente. Em dezembro, não deve ser diferente. Para o Natal, terão de contar com ajuda de entidades para assegurar, ao menos, o básico na mesa.

"Os preços aumentaram demais. Mercado pesa muito na conta. Carne vermelha então, nem pensar. Quando dá, compro coxa e sobrecoxa de frango, mas não é sempre. Ou eu pago a luz ou vou para o mercado. Tem que escolher", conta Elizabete, que vive apenas com o benefício de um salário mínimo recebido através do filho, que tem deficiência.

"Está difícil manter a alimentação. Tem muitas dívidas. Então, fica praticamente sem comprar nada, principalmente 'mistura', que é cara. Vivo mais de legumes", revela a vizinha de Elizabete, a pensionista Solange de Fátima Domingues, de 60 anos.

PÉ DE FRANGO

Com cinco filhos pequenos, o servente de pedreiro Fabiano dos Santos, 45 anos, complementa a renda recolhendo recicláveis. Os 'bicos' nas obras têm aparecido com menos frequência. "Está tudo muito caro. Tijolo que custava R$ 0,50 sai por R$ 1,00 hoje. Fica difícil aparecer serviço", diz. A família vive em um barraco no Fortunato Rocha Lima, em meio a goteiras, chão de barro e uma infinidade de objetos encontrados pelas ruas.

Antes de sonhar com o Natal, há, pela frente, o desafio diário de colocar comida na mesa. "Não sei como vai ser [a ceia]. Sem expectativas. Vou juntando reciclável para ver se compro, pelo menos, um pé de frango. Aí faz um molho, um macarrãozinho", revela o servente.

DIGNIDADE

Segundo Maria Inês Faneco, representante do Esquadrão do Bem, tem sido cada vez mais difícil manter as cestas básicas mensais porque houve uma queda grande nas doações. Portanto, o desafio de oferecer a ajuda regular e ainda complementar com um kit natalino ficou ainda maior.

"Que seja, ao menos, um almoço digno [na ceia], para sair do arroz e feijão. Essas famílias estão comendo só isso. Semana passada, ganhamos uma doação grande de ovos, parecia que estávamos dando ouro na favela. A miséria está muito grande", lamenta.

O sonho natalino dela é arrumar os dentes e voltar a trabalhar

Rafaela Monteiro

Há três anos, Marta Xavier Santos, de 48 anos, moradora do Jaraguá, luta para conseguir um novo emprego. Para ter uma chance maior, o sonho de Natal dela é consertar o sorriso. "Eu poderia trabalhar de novo. Trabalhei muito na vida. Fui babá, camareira, cozinheira, faxineira... perdi a autoestima. Tinha os dentes perfeitos, mas, hoje, me sinto um lixo", lamenta a mulher, em meio às lágrimas. Ela conta ter sido rejeitada em chances de trabalho por causa da falta de dentes.

Sem salário fixo, a família conta só com os bicos de jardinagem do marido, Roberto Soares da Silva, de 45 anos. Quando não precisa cuidar do filho, que tem deficiência, ela recolhe recicláveis. Sobre o fogão, o almoço se resume a uma panela de arroz e uma menor, com um pouco de feijão. "Meu marido ia fazer um biquinho hoje, mas choveu. Não tem nada para o final de semana", disse, na manhã desta sexta-feira (26).

Na geladeira, há um pouco de café, três cocos verdes e algumas folhas de alface. No armário, só cinco pacotes de sal. "A gente vive de ajuda. Um vizinho dá uma coisa, o outro dá um marmitex. A cesta básica [de entidades assistenciais] ajuda demais, porque a conta do mercado é pesada".

Além das ações das entidades, o Fundo Social de Solidariedade também realiza a campanha "Natal Para Todos", que visa arrecadar alimentos até o dia 20 de dezembro e fazer com que o Natal das famílias em situação de vulnerabilidade seja um pouco mais digno.

São aceitas doações de qualquer alimento não perecível, como arroz, feijão, farinha, fubá, óleo, leite em caixa, macarrão, molho de tomate, sal, açúcar, bolacha, pó de café, entre outros. Todas as secretarias municipais e as regionais da Sear são pontos de arrecadação, além do DAE, Emdurb, Cohab e Funprev, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também é parceira, com 24 lojas de nove redes de supermercados de Bauru participando da arrecadação, no horário de funcionamento desses estabelecimentos.

As empresas, condomínios e associações de moradores interessadas em colaborar com doações ou como ponto de arrecadação devem entrar em contato com o Fundo Social de Solidariedade pelo telefone (14) 3235-1119 ou pelo telefone e WhatsApp (14) 99105-3428, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Também é possível ir pessoalmente no Fundo Social, na Praça das Cerejeiras, 1-59.



Fonte: JC Net

Fonte: jcnet

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