Oficial da Polícia Militar (PM), psicólogo e voluntário engajado. Essas três funções acompanham e definem boa parte da trajetória de José Silvio Turini, 73 anos. Bauruense, nascido em uma casa na avenida Duque de Caxias, fez carreira na PM e chegou a comandar o policiamento da região no final dos anos 1990. Conciliou a atividade com o trabalho de psicólogo, mantendo durante muitos anos uma clínica particular. Tudo isso ao mesmo tempo em que exerceu, por mais de quatro décadas, serviço voluntário, chegando a ser presidente do Centro Espírita Amor e Caridade (Ceac). Neste começo de 2022, encerrando cinco anos de mandato, ele deixou o cargo. "Sensação de missão cumprida", avalia Silvio, ao falar sobre seu trabalho no Ceac, na PM e na psicologia.
Filho de Santo Turini e Thereza Morales Turini, mudou-se para a Capital paulista aos 12 anos, depois que o pai foi transferido, juntamente com a irmã, Heloisa Helena Turini. Aos 17 anos, entrou para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Formou-se em 1970, mesmo ano em que ingressou na faculdade de psicologia. "Tive muitas funções na polícia ligadas ao ensino, e a psicologia me ajudou a aprimorar esse trabalho", explica.
E ajudou mesmo. Tanto que, em 1993, implantou um projeto pioneiro de reabilitação emocional para policiais militares. Na época, a iniciativa teve repercussão internacional. "Era um suporte para aqueles que passavam por ocorrências violentas, uma necessidade tanto da PM quanto da sociedade", pontua Turini.
Em 1980, casou-se com a artista plástica Lucia Helena Turini, 67 anos, com quem teve os filhos Bianca Turini e Gustavo Turini, este casado com a advogada Bianca Fraulini Lamoso. Há 40 anos, Silvio Turini e a esposa desenvolvem trabalhos voluntários. Foram muitos na Capital paulista até que, quando voltou para Bauru, passou a fazer parte do Ceac, onde virou presidente e encontrou outro grande desafio: a pandemia. "Nós quase fechamos as portas. Mas graças a Deus conseguimos superar", conta, aliviado.
E sobre o exercício de três funções tão distintas ao longo da vida, ele esclarece: "Estão muito ligadas ao atendimento". Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida por ele ao JC.
Jornal da Cidade - De onde veio a vocação para ser policial militar?
Silvio Turini - Acho que do meu pai. Ele era sargento e serviu na 2.ª Guerra Mundial, lutou o tempo todo na Itália. E eu também sempre admirei o trabalho da polícia. Entrei para a Academia do Barro Branco em 1966, me formei em 1970. Depois, eu fiz psicologia.
JC - E por que fazer essa graduação, mesmo já estando na PM?
Turini - O lema da PM é "servir e proteger". Então, ambas estão muito ligadas ao atendimento. Logo que eu saí do Barro Branco, passei por algumas unidades e, quando estava fazendo psicologia, fui trabalhar no setor de alistamento, fazendo seleção psicológica. Fiquei muitos anos, cheguei a chefiar o setor. A maioria dos locais em que trabalhei na PM estavam ligados ao ensino, como a Escola de Soldados, de Sargento, de Oficiais, Curso de Aperfeiçoamento e pós-graduação.
JC - E como fazia para conciliar as duas atividades?
Turini - Eu atendia à noite, na clínica. Mantive as duas atividades até eu ser transferido para Marília, em 1995, onde fui comandante. Nós queríamos voltar para o Interior em busca de qualidade de vida, até por causa das crianças. Depois, assumi o comando em Bauru, em 1996, na época tinha um efetivo de 2 mil policiais. Eu já era coronel e fiquei na função até entrar para a reserva.
JC - E o que foi construído a partir dessa integração?
Turini - Em 1993, quando ainda era major, criei um projeto de reabilitação emocional para atender policiais militares que se envolviam em ocorrências violentas e que causavam estresse. Teve repercussão internacional. Era uma necessidade da corporação e também da sociedade. A função de policial é muito estressante e se você não estiver bem, não consegue executar o seu trabalho. Teve uma receptividade muito boa da corporação porque trazia um benefício para os policiais.
JC - E o trabalho voluntário, como entrou na sua vida?
Turini - Eu e minha mulher somos espíritas e começamos lá atrás, ainda em São Paulo. Trabalhávamos na Casa Transitória Fabiano de Cristo. Quando eu fui para a reserva, já aqui em Bauru, começamos a ajudar no Ceac. Entrei para a diretoria e fiquei 23 anos na instituição. Agora, no começo do ano, depois de cinco anos como presidente, passei o cargo.
JC - E o senhor estava na presidência do Ceac justamente durante a pandemia. Tiveram dificuldades?
Turini - Muitas, porque todas as fontes de renda secaram. Livraria, café, bazar. Tivemos que dispensar funcionários. Graças a Deus conseguimos sobreviver, mas quase fechamos as portas. O Ceac é uma instituição centenária, muito grande, são 11 projetos sociais, seis núcleos na periferia e um albergue noturno. Atender cerca de 25 mil pessoas por ano, com 150 funcionários e quase mil voluntários, não é fácil.
JC - Agora, depois de passar a presidência, qual sensação fica?
Turini - Alívio. É uma carga muito grande. Espero que tudo corra bem daqui para frente.
JC - E a respeito de toda essa trajetória, PM, psicologia e voluntariado, qual é o sentimento?
Turini - De missão cumprida. Mas na parte de voluntário, pretendo continuar trabalhando, estou avaliando ainda o que fazer.
Fonte: jcnet
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