22 de Novembro de 2024

Morte de adolescente baleado pela polícia gera revolta na França; Mbappé, Koundé e Omar Sy criticam autoridades


Reprodução/Twitter/@OmarSy e Reprodução/Twitter/@valerieboyer13

A morte de Naël, um jovem de 17 anos, que foi baleado pela polícia francesa, gerou uma onda de revolta e protestos no país nesta quarta-feira, 28. O adolescente foi morto a tiros enquanto tentava fugir de dois agentes com um carro. O caso revoltou a população e até personalidades, como os jogadores de futebol Kylian Mbappé, que joga no Paris Saint-Germain, e Jules Koundé, do Barcelona, se manifestaram e criticaram o abuso das autoridades. “Sinto-me mal pela minha França. Uma situação inaceitável. Todos os meus pensamentos vão para a família e entes queridos de Naël, este anjinho que partiu cedo demais”, escreveu o atacante francês Mbappé em sua conta no Twitter. Koundé, também por meio das redes sociais, também se manifestou sobre a situação e a chamou de inaceitável. “Um jovem de 17 anos foi morto a tiros à queima-roupa por um policial por se recusar a obedecer durante uma checagem. Esta é a realidade da situação e é dramática. Como se não bastasse esse novo erro policial, os canais de notícias contínuas estão fazendo um grande alarido”, escreveu o jogador que também criticou o trabalho da imprensa, dizendo que suas “perguntas tem como único objetivo distorcer a verdade e criminalizar a vítima”.

Além dos atletas, o ator Omar Sy enfatizou que Naël morreu assassinado por um policial e exigiu que um juiz digno desse nome honre a memória desse menino. “Meus pensamentos e orações vão para a família e entes queridos de Naël, que morreu aos 17 anos esta manhã, morto por um policial em Nanterre. Que a justiça digna desse nome honre a memória desta criança”, escreveu. Seguido os passos das celebridades o presidente francês, Emmanuel Macron, se solidarizou com família de jovem morto e pediu calma, após uma noite de distúrbios com mais de 30 detidos e dezenas de carros incendiados. Durante um pronunciamento em Marselha, onde realiza uma visita de três dias, Macron afirmou que “nada justifica a morte de um jovem”, enquanto circulam imagens dos acontecimentos que desacreditam a versão inicial dos polícias envolvidos, segundo a qual teriam agido em legítima defesa. Ele expressou em nome de “toda a nação” sua “emoção e carinho por Naël e sua família” e destacou que sua morte “é inexplicável e indesculpável”. Macron ressaltou que quer que a Justiça atue com rapidez, mas com a serenidade necessária para encontrar a verdade. “Em um contexto como este, é preciso carinho e respeito por Naël e sua família, calma para que haja Justiça e também calma em todos os lugares porque não precisamos que a situação pegue fogo”, acrescentou, em alusão direta aos tumultos da noite passada em Nanterre e em outras cidades dos arredores de Paris

 

Diante das ondas de revoltas que o caso causou, o governo da França vai mobilizar 2.000 agentes das forças de segurança em cidades nos arredores de Paris para evitar a repetição dos distúrbios ocorridos ontem à noite. O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, fez nesta quarta-feira, 28, um “apelo à calma” antes de anunciar este dispositivo das forças de ordem e garantir que toda a verdade será conhecida sobre os acontecimentos que estão na origem dos distúrbios, os quais qualificou como “um drama”. Em pronunciamento à imprensa, Darmanin condenou os motins ocorridos na cidade de Nanterre e em outras nos arredores da capital francesa, que deixaram um saldo de 31 detenções. Os manifestantes incendiaram 40 veículos, um prédio da prefeitura de Mantes la Jolie e feriram 24 policiais, segundo o ministro, que detalhou que 1.200 agentes foram mobilizados durante a noite. O prefeito da polícia de Paris, Laurent Núñez, detalhou nesta quarta-feira à emissora de televisão ‘CNews’ disse que o “dispositivo durará o tempo que for necessário”, referindo sobre a manutenção do efetivo policial nos próximos dias.

Núñez reconheceu que se esperava tumultos após o ocorrido na manhã de ontem em Nanterre, em alusão à morte de Naël, um jovem classificado como negro e que possuía antecedentes criminais que dirigia sem carteira e que, após ser parado por dois policiais, tentou fugir com o veículo e foi morto a tiros. Um vídeo do incidente registrado por uma testemunha mostra como um dos agentes, um brigadista de 38 anos, apontou sua arma diretamente para o menor próximo à janela do motorista enquanto o outro falava com ele do mesmo lado. O tiro ocorreu no momento em que o carro acelerava, sem ameaçar diretamente a integridade dos policiais, o que foi, no entanto, o que alegaram inicialmente o policial que efetuou o disparo, que está preso, e seu colega. A Justiça abriu duas investigações, uma delas por homicídio voluntário cometido por um responsável pelo poder público, que diz respeito diretamente à responsabilidade desse brigadista. A segunda, por fugir de um controle policial, tem a ver com o comportamento de Naël, procedimento que tem provocado a indignação da família do jovem que, pela boca da advogada Jennifer Cambla, lembrou que na França não se pode julgar um morto. Em declarações nesta quarta-feira à emissora de rádio “France Info”, Cambla indicou que a família pretende apresentar queixa por falsificação, por considerar que os agentes envolvidos no incidente mentiram no seu primeiro depoimento.

 

A advogada afirmou ainda que a reação da polícia foi “absolutamente ilegítima” e que “não se enquadra no marco da legítima defesa” porque “não basta sentir-se ameaçado para disparar uma bala no peito”. Esses eventos geraram uma reação política, especialmente de alguns representantes da esquerda, ??que denunciaram o grande número de mortes nas mãos de policiais que tentam amparar-se sob a legítima defesa, principalmente quando um motorista foge de um controle policial. “Essas mortes comprometem a autoridade do Estado. A polícia deve ser totalmente reconstruída e seus assassinos punidos. Os policiais republicanos não devem mais se deixar desonrar por esse tipo de companheiro. E os comentaristas que os perdoam encorajam o pior”, afirmou Jean-Luc Mélenchon, líder esquerdista, em sua conta no Twitter.


Fonte: jovempan

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