Com a chegada do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia na última quarta-feira, 15, são esperadas conversas com o presidente russo, Vladmir Putin, sobre questões comerciais e ligadas estritamente às relações internacionais entre os dois países. O Brasil deve se manter distante de posicionamentos sobre os conflitos existentes entre a Rússia com a Otan e a Ucrânia. Para falar sobre o assunto, o professor de Direito Internacional da FMU Manuel Furriela concedeu uma entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta quarta. Para ele, a posição do Brasil de não se envolver no conflito, não apoiando nenhum dos lados, é estratégica.
“O Brasil posicionou-se de uma forma pragmática, deixando claro, desde o início, que não vai tomar um posicionamento, ou seja, não vai apresentar qualquer tipo de alegação de que estaria a favor dos ucranianos, dos russos, da Otan, dos Estados Unidos, ou seja, das principais partes envolvidas. Esse posicionamento, no meu ponto de vista, faz total sentido, já que o Brasil não tem protagonismo neste conflito. E, como a posição brasileira sempre é de ter relacionamento com todos os Estados, todos os países, por óbvio não faria nenhum sentido algum tipo de posicionamento em relação ao conflito. Pelo menos até o que nós sabemos no momento, pela agenda oficial apresentada pelo Palácio do Planalto, os temas que serão tratados entre Putin e Bolsonaro envolverão relações comerciais entre os países. Podem surgir outros temas, por exemplo um eventual apoio russo à pretensão brasileira de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU ou algumas outras questões que sejam muito próprias dos dois países. Mas eu não acredito em um envolvimento direto do Brasil, neste momento, neste conflito. Não é útil e nem conveniente”
Sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia em si, o professor destacou que o maior interessado no ingresso da Ucrânia na Otan é o próprio país, visto que, ao fazer parte do grupo, ameaças militares ou invasões de inimigos devem ser respondidas por toda a Otan obrigatoriamente. “A Ucrânia sempre teve receio de qualquer tipo de intervenção militar russa em seu território. Tanto é verdade que ela perdeu a Crimeia, parte de seu território, por conta de conflitos com a Rússia. Então, a Ucrânia fazer parte da Otan faz com que ela traga um escudo de proteção, simplesmente o mais importante que tem no mundo todo”, explicou.
“Para a Europa, a Ucrânia fazer parte da Otan não é algo de primeira ordem, inclusive porque os principais países da União Europeia, como o caso da Alemanha, que é o mais destacado, têm total interesse em manter boas relações com a Rússia, não só por conta do abastecimento de gás, que é totalmente fundamental para a Europa continuar funcionando, como também a Alemanha é parceira da Rússia em um gasoduto que passa fora do território ucraniano. Então, a Europa tem se posicionado a favor do ingresso da Ucrânia [na Otan], mas de forma muito moderada. E os Estados Unidos têm um interesse geopolítico na região. Movimentar tropas ou colocar qualquer tipo de armamento mais perto da Rússia obviamente também é do seu interesse, ou diminuir a influência russa”, finalizou.