O ataque do grupo Hamas a Israel, não só deixou o país vulnerável e colocou em dúvida seu sistema de segurança, um dos mais eficazes do mundo, como também manchou a imagem do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que depende do desfecho da guerra para manter o seu legado. Durante a semana, um dos principais jornais do país culpou o premiê pela atual situação que acontece desde o dia 7 de outubro e disse que sua obsessão pelos assentamentos na Cisjordânia, junto a sua aliança com a extrema-direita, que fez com que ele voltasse ao poder no final de 2022, foram os responsáveis pelo ataque orquestrado pelo Hamas. Diante do acontecido, e do conflito que já deixou mais de 3.000 mortos, Netanyahu tem trabalho duro para reverter a situação e se mostrar ser aquele personagem com a qual se vendeu para o público: o único capaz de manter a segurança de Israel.
Na sexta-feira, 13, dia em que começou a fazer pequenas incursões terrestres na Faixa de Gaza, local que tem sido alvo de bombardeios israelenses desde o dia do ataque, o premiê disse que tudo que seu país fez até agora é só o começo e que o inimigo começou a pagar o preço pelo que fez, além de dizer que prometer extinguir o Hamas. “Nossos inimigos apenas começaram a pagar o preço. Não posso divulgar o que vem em seguida, mas vou dizer-lhes que isto é só o começo”, declarou Netanyahu em discurso à nação. “Estamos lutando pelo nosso lar como leões”, acrescentou, dizendo que vão sair dessa guerra mais forte. Vitélio Brustolin, professor de relações internacionais da UFF e pesquisador de Harvard, diz que a imagem de Netanyahu ficou manchada com o que aconteceu e lembra que nesta semana saiu uma pesquisa que mostra que 75% o desaprovam. “Eles consideram que o ato terrorista também é responsabilidade dele, que está no governo e não conseguiu prevenir”, fala.
Além desta guerra que está em curso, a população já estava desgostosa com o premiê, pelo fato dele ter implantado uma reforma do sistema judiciário, situação que fez com que todos os finais de semana desde o começo do ano fossem tomadas por manifestações contra, em prol da democracia que ficou ameaçada com essa mudança. “Netanyahu precisa sair bem dessa situação porque ele é processado por três acusações: suborno, fraude e de quebra de confiança em Israel”. Karina Calandrin, colaboradora do Instituto Brasil-Israel e doutora em relações internacionais, com foco em Oriente Médio, lembra que desde que o israelense, que assumiu o poder pela primeira vez nos anos de 1990, voltou em 2009 e ficou de maneira interrupta até 2021, ele assumiu uma postura de segurança muito dura, porém isso, ao menos tempo que aumentava sua popularidade, também fortaleceu o Hamas.
“Toda vez que o grupo atacava, Israel revidada e isso fazia com que sua popularidade aumentasse, porque ele era visto pela população como uma figura muito hábil em conseguir lidar com as questões de segurança e ameaças que Israel enfrenta”, fala, mas complementa que com base no que vimos no ataque de do Hamas, sua atuação não era tão boa quanto parecia. “Já saíram pesquisas de opinião pública, e Netanyahu tem 65% da população em silêncio e quer que ele renuncie imediatamente, fora aqueles que querem que ele faça isso após a operação militar. Independente do resultado da operação, ela já representou uma grande perda de capital político para ele”, diz Calandrin. Vladimir Feijó, analista internacional, doutor em direito internacional e professor da Faculdade Arnaldo, pontua que uma das várias críticas quanto ao governo de Netanyahu, é o fato dele ter colocado gente inexperiente nos cargos importante, como a área da segurança, o que fez com que fosse necessário realizar um gabinete de guerra e incluir pessoas da coalizão.
“É preciso saber o que vai acontecer durante o conflito, se algum apoiador pode fazer menção de censura e pedir a retirada dele, alegando incompetência, conivência, o que quer que seja de incapacidade”, fala o professor sobre o possível futuro do premiê. “Ele se sustentou nos mandatos passados dizendo que é o único capaz de produzir uma paz prolongada para Israel, essa ruptura da paz com essa guerra certamente já é uma mancha para a imagem dele”, acrescenta. Para Feijó existem alguns pontos que podem ser falados quando se pensa no porquê a segurança de Israel falhou e não conseguiu prever o ataque do Hamas. Ele lista três que merecem atenção. O primeiro é o fato de que “o terrorismo se aproveita de assimetria de informação, daquilo que o Estado não é capaz de captar para lançar um ataque surpresa”.
Já o segundo, diz respeito ao fato de Netanyahu ter “priorizado demais a Cisjordânia, a defesa dos assentamentos e colocar bastante pessoal na região, aumentando a tensão entre colonos e palestinos”. Por fim, Feijó fala sobre um total descaso, descuido e excesso de confiança na ideia de que seria possível uma paz em Israel apenas negociando com governos dos países e ignorar a necessidade de cuidar também da Palestina, dos palestinos. “Então esses seriam os três elementos que eu acho que podem ter sido do lado dele, do governo dele, contribuído para que acontecesse o ataque a partir de sábado”, finaliza.
Fonte: jovempan
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