É consenso que a poluição do ar traz inúmeros efeitos adversos à saúde e que os impactos podem ser alarmantes. Hoje se sabe que, mesmo níveis baixos de poluição, abaixo dos limites legais estabelecidos por muitos países ou cidades, trazem consequências graves à saúde, principalmente para os indivíduos mais vulneráveis.
Poluente é qualquer substância presente no ar que, dependendo da sua concentração, pode ser nociva para a saúde. O nível de poluição e a medição da qualidade do ar é restrita a um número de substâncias escolhidas em razão da importância relacionada aos seus efeitos deletérios sobre a saúde, da frequência de ocorrência e, claro, da capacidade de medição. Os principais poluentes do ar são: as partículas inaláveis, o ozônio, o dióxido de nitrogênio, o dióxido de enxofre e o monóxido de carbono.
A poluição do ar mata mais de 8 milhões de pessoas por ano no mundo e é a quarta principal causa de morte. Só no Brasil, segundo dados oficiais, 51 mil pessoas morrem por ano por causa da poluição do ar. Isso gera, além do sofrimento, um impacto bilionário em perda de produtividade e nos gastos com o sistema público de saúde. Uma estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere que mais de 90% da população mundial vive em áreas onde os níveis de poluição são prejudiciais à saúde.
Se as recomendações da OMS em relação aos limites de poluição do ar fossem seguidos, estima-se que 80% das mortes relacionadas à poluição poderiam ser evitadas. Vale a pena ressaltar que não existe consenso da existência de um nível de exposição à poluição do ar que seja seguro para a saúde.
Todos os principais poluentes citados estão associados com efeitos deletérios à saúde respiratória, mesmo em pessoas saudáveis, sem doenças pulmonares prévias. Por exemplo, o ozônio, que é formado pela reação dos produtos da queima de combustíveis fósseis com a luz solar e o calor, é capaz de gerar inflamação nas vias aéreas de indivíduos saudáveis e levar a uma diminuição da capacidade pulmonar, mesmo após algumas horas de exposição.
As crianças que participam de atividades ao ar livre e que se expõem a altas taxas de poluição por ozônio têm maior probabilidade de desenvolverem asma. Além disso, esta exposição pode favorecer a progressão da asma e levar à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (doença caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas dos pulmões que se apresentam com episódios recorrentes de limitação respiratória), assim como a episódios de pioras agudas, aumentando a necessidade de atendimento médico, internações hospitalares e consultas médicas.
A poluição do ar produzida por micropartículas inaláveis é uma mistura complexa de substâncias produzidas através da queima de combustíveis fósseis, atividades industriais, queima de madeira, produção de energia, queimada na agricultura e também provenientes de fontes naturais, como pólen e poeiras. Esses materiais particulados podem causar uma lesão direta e inflamação no tecido pulmonar. Existe relação direta entre a inalação dessas partículas com exacerbação de asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, além de redução da capacidade pulmonar em adultos e crianças, risco de infecção pulmonar, como pneumonia, e risco de desenvolver asma e câncer de pulmão.
Outro fator importante é que essas micropartículas inaladas podem chegar nas áreas mais profundas do pulmão e atravessar para a corrente sanguínea, gerando uma reação de inflamação sistêmica, ou seja, no corpo todo. Essa alteração sistêmica de inflamação crônica promove aumento do risco de doenças cardiovasculares como o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC), além de aumentar risco de exacerbação de doenças cardíacas prévias. Quanto maior a exposição a estes agentes, maior o risco.
Essa correlação ficou clara durante o incêndio florestal na Califórnia em 2013, onde ataques cardíacos após exposição a material particulado (fumaça) aumentaram em 42%. No Brasil, em 2019, com aumento dos eventos de queimadas na Amazônia, atribuiu-se 2000 internações hospitalares por problemas respiratórios relacionados ao fogo. Mas não é apenas o sistema respiratório que é prejudicado pela exposição à poluição do ar. Evidências mostram aumento do risco materno fetal, na prematuridade e baixo peso no nascimento; consequências na saúde mental e no risco no desenvolvimento de demência e também na capacidade do corpo se defender de infecções como a do Covid -19.
Prevenir ou limitar a exposição a esses agentes nocivos é o princípio para a diminuição de riscos de complicações. Enquanto não se têm as políticas públicas consistentes para redução da emissão de poluentes para níveis ideais e ainda para a redução das desigualdades que expõem populações mais vulneráveis, algumas intervenções podem minimizar esses riscos.
– Identificar as pessoas mais vulneráveis a complicações, como os bebês, grávidas e idosos, principalmente com doenças pulmonares e cardíacas prévias;
– Evitar a realização de atividade física ao ar livre nos dias em que a qualidade do ar estiver pior, procurando informações regularmente sobre a qualidade do ar e evitando os momentos onde os níveis de ozônio estão mais elevados, como, nos períodos do verão, entre o final da manhã e o início da tarde;
– Evitar exposição direta em períodos de pico de trânsito;
– Evitar permanecer ao ar livre nos dias que a qualidade do ar estiver ruim;
– Principalmente para pessoas vulneráveis com problemas pulmonares prévios, criar com o seu médico planos de ação medicamentosos se ocorrer exacerbação ou medicação preventiva para os momentos em que a qualidade do ar estiver pior;
– Considerar o uso de máscaras específicas nas situações de alta exposição;
Respirar bem, num ambiente saudável, é um direito de todos nós.
* Por Dr. Andre Apanavicius – CRM 111.998
Fonte: jovempan
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