O vencedor do Nobel da Paz Muhammad Yunus encorajou nesta quarta-feira (7) seus compatriotas a “reconstruírem Bangladesh”, antes de retornar ao país como líder de um governo interino, após os violentos protestos que derrubaram a primeira-ministra Sheikh Hasina. O chefe do Exército de Bangladesh, general Waker-Uz-Zaman, declarou nesta quarta-feira (7) que espera que o novo governo interino assuma na quinta-feira (8). “Estamos fazendo o possível para realizar a cerimônia de posse amanhã”, afirmou o militar em uma coletiva de imprensa. Yunus fez um apelo por “calma”, depois de mais de 432 pessoas morrerem desde o início da mobilização contra Hasina, segundo uma contagem baseada em fontes policiais, governamentais e médicas. “Fiquem tranquilos e preparem-se para reconstruir o país. Se tomarmos o caminho da violência, tudo será destruído”, indicou em um comunicado.
Yunus ganhou o Prêmio Nobel da Paz e o Príncipe de Astúrias da Concórdia em 2006 por fundar um sistema de microcréditos para mulheres em áreas rurais. O economista de 84 anos afirmou nesta quarta-feira que está ansioso para “voltar para casa” ao iniciar o retorno da França. “Estou ansioso para voltar para casa, ver o que está acontecendo e como podemos nos organizar para sair dos problemas em que nos encontramos”, declarou aos jornalistas antes de embarcar em um voo em Paris com escala em Dubai rumo à capital de Bangladesh, Daca.
Hasina estava no poder há 15 anos, mas seu último mandato foi marcado pelo boicote da oposição às eleições, denunciadas nem livres nem justas. Hasina renunciou na segunda-feira, pressionada por uma onda de protestos que começou no início de julho com um movimento estudantil contra um sistema de cotas para funcionários públicos, medida que seus críticos afirmaram beneficiar grupos leais à Liga Awami, o partido de Hasina. As manifestações se transformaram posteriormente em uma mobilização mais ampla contra o governo.
A fama internacional de Yunus, conhecido como “o banqueiro dos pobres” por seu programa de microcréditos para mulheres em áreas rurais, o projetou como um possível rival de Hasina, que o acusou de “sugar o sangue” dos pobres. O advogado de Yunus informou nesta quarta-feira que ele foi absolvido por um tribunal de uma condenação de seis meses de prisão proferida em janeiro por violar a legislação trabalhista. Na época, o prêmio Nobel negou as acusações, ficou em liberdade sob fiança e foi para o exterior.
Yunus escreveu na quarta-feira na revista britânica The Economist que fará o possível para que “se celebrem eleições livres e justas nos próximos meses”. “Precisamos, acima de tudo, de jovens que não estejam obcecados em acertar contas, como muitos dos nossos governos anteriores estiveram”, declarou. A decisão de “formar um governo interino” liderado por Yunus foi tomada nas primeiras horas de quarta-feira em uma reunião entre o presidente Mohamed Shahabuddin, os chefes militares e os líderes estudantis que comandaram os protestos.
O presidente de Bangladesh dissolveu o Parlamento, uma das exigências principais dos estudantes, compartilhada com a principal formação de oposição, o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), que pede a convocação de eleições nos próximos três meses.
O presidente Shahabuddin destituiu o chefe da polícia nacional e o exército reestruturou o comando militar, afastando altos oficiais considerados próximos a Hasina. O principal sindicato da polícia pediu “perdão” por ter atirado contra os estudantes. O novo chefe da polícia, Mainul Islam, prometeu uma investigação “imparcial” sobre as mortes dos manifestantes.
Shahabuddin Estado ordenou na segunda-feira a libertação das pessoas detidas durante as manifestações e da principal rival política de Hasina, a ex-primeira-ministra Khaleda Zia, do BNP, que estava em prisão domiciliar há anos. Bangladesh, um país do sul da Ásia com 170 milhões de habitantes, era uma das nações mais pobres do mundo no momento de sua independência do Paquistão em 1971.
O desenvolvimento de sua indústria têxtil, que abastece grandes marcas de todo o mundo, gerou um rápido crescimento, com desigualdades, e nos últimos anos o país superou o PIB per capita da Índia.
*Com informações da AFP
Publicado por Carolina Ferreira
Fonte: jovempan
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