Os países europeus começaram a se movimentar para retirar seus cidadãos do Níger, seis dias após o golpe de Estado que derrubou Mohamed Bazum, um dos últimos governantes pró-Ocidente nesta região da África, onde atuam vários grupos extremistas. A França começará a retirar seus cidadãos nesta terça-feira, 1, informou o ministério de Relações Exteriores. “Diante da deterioração da situação de segurança e aproveitando a calma relativa em Niamey, nós estamos preparando uma operação de retirada por via aérea”, afirmou a embaixada. A França calcula que quase 600 cidadãos do país estão no Níger. Esse anúncio vem um dia após as manifestações hostis diante da embaixada francesa. Na segunda-feira, 31, a junta militar acusou a França de tentar “intervir militarmente”, o que Paris nega, ao mesmo tempo em que Mali e Burkina Faso, também governados por militares, alertaram que qualquer intervenção no Níger seria uma “declaração de guerra” contra essas nações.
Em resposta, o governo do presidente Emmanuel Macron advertiu veementemente que agiria “de forma imediata e decisiva” se houvesse ataques contra seus interesses. Nesta segunda-feira, o Palácio Eliseu destacou que Macron conversou diversas vezes com Bazoum e com seu antecessor, que atua como mediador, bem como com dirigentes de outros países da região, dentro de uma longa série de contatos em busca de uma solução para a crise no Níger. A França, ex-potência colonial do país africano, tem um contingente de 1.500 soldados na região para apoiar a luta contra o jihadismo e fortes interesses no setor de extração de urânio, com o qual abastece suas cruciais usinas nucleares. O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também anunciou um voo especial para os cidadãos que desejam sair do país.
O governo da Alemanha também pediu aos seus cidadãos que deixem o Níger, em meio à crescente instabilidade que o país vive após o golpe militar, e recomendou que o façam através dos voos de evacuação organizados pela França. “Podemos confirmar que nossos parceiros franceses se ofereceram para, dentro de suas capacidades, evacuar cidadãos alemães a bordo de seus aviões”, informou o Ministério das Relações Exteriores alemão em comunicado. “Recomendamos a todos os cidadãos alemães em Niamey que aceitem esta oferta”, acrescentou a nota. A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) adotou sanções no domingo contra o Níger, advertiu que poderia utilizar a força no país e deu um ultimato de uma semana aos golpistas para que Bazum retorne ao poder.
Nesta segunda-feira, 31, o ministro das Relações Exteriores da Espanha em exercício, José Manuel Albares, pediu aos espanhóis que estão no Níger que notifiquem sua presença à embaixada, e reiterou que a cooperação espanhola não voltará ao país africano enquanto o presidente deposto, Mohamed Bazoum, não for libertado. “Entre em contato imediatamente – com a embaixada espanhola no Níger – para saber se estão bem e manter contato”, disse Albares, referindo-se aos espanhóis que ainda estão lá e não informaram a embaixada. Durante um curso sobre a Presidência espanhola da União Europeia (UE) no norte do país, Albares afirmou que o governo espanhol está acompanhando “com muita preocupação” o que se passa no Níger, um país que tem “uma história de sucesso”, embora seja “muito frágil”. Acrescentou que o Níger é um “grande parceiro” da Espanha e da UE, que “tem avançado democraticamente com um governo comprometido no desenvolvimento do seu próprio povo, o do presidente Bazoum”. Por isso, ressaltou que a Espanha rejeita “categoricamente” a detenção do presidente e exige “sua libertação imediata”.
O que acontece no Níger?
O golpe de Estado, dado em 26 de julho, foi liderado por uma junta militar autodenominada Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), que anunciou a destituição do presidente Mohamed Bazoum, a suspensão das instituições, o fechamento das fronteiras e um toque de recolher noturno até novo aviso. Esse foi o terceiro golpe de Estado na região em três anos, após as tomadas de poder nos vizinhos Mali e Burkina Faso. Bazum chegou ao poder em 2021, depois de vencer as eleições que representaram a primeira transição pacífica de poder no país. O mandato, no entanto, já estava marcado por duas tentativas de golpe antes dos acontecimentos da semana passada, quando ele foi detido na residência oficial por membros da guarda presidencial de elite.
O Níger é um país semidesértico, um dos mais pobres e instáveis do mundo, apesar de suas grandes reservas significativas de urânio, que registrou quatro golpes de Estado desde a independência da França em 1960. Com a retirada de Bazum, o comandante da guarda, general Abdurahaman Tiani, se declarou o novo líder do país, apesar das críticas da CEDEAO, da União Africana, da ONU, assim como da França, Estados Unidos e União Europeia. O golpe acionou os alarmes nos países ocidentais que lutam para conter uma insurgência jihadista nessa região, que teve início no norte do Mali em 2012, avançou para o Níger e Burkina Faso três anos depois e agora ameaça as fronteiras de vários Estados frágeis no Golfo de Guiné.
A violência extremista provocou um número indeterminado de vítimas civis, soldados e policiais em toda a região. Em Burkina Faso, 2,2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas. A França já teve 5.400 soldados na região como parte da missão antijihadista denominada ‘Barkhane‘, com o apoio de aviões de combate, helicópteros e drones. Porém, no ano passado, o país teve que retirar suas tropas do Mali e de Burkina Faso e atualmente mantém 1.500 homens na região, a maioria no Níger.
*Com informações das agências internacionais
Fonte: jovempan
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