A decisão do Campeonato Paulista de 2023 entre Palmeiras e Água Santa é uma das finais mais desiguais da história do Estadual. Só em 2022, o Verdão registrou faturamento bruto de R$ 857,5 milhões, o que propicia ao time contar com estrelas como Weverton, Gustavo Gómez, Raphael Veiga e Dudu. Do outro lado está uma equipe recém-saída do futebol de várzea — só se profissionalizou em 2014 — e que não disputará nenhum torneio no segundo semestre. Apesar de toda essa discrepância, o Netuno venceu o primeiro jogo, no domingo passado, 2, e jogará por um empate no Allianz Parque, às 16h. O Verdão precisa de vitória por dois gols ou mais de diferença para dar sua oitava volta olímpica na era Abel Ferreira e conquistar seu 25º Paulistão. Um triunfo alviverde por apenas um tento levará a disputa da taça para os pênaltis.
Com tamanha diferença entre títulos, elencos, infraestrutura, tamanho da torcida e dinheiro no banco, o confronto deste domingo lembra o épico embate bíblico entre um simples pastor (Davi) e um gigante (Golias). Este tipo de comparação é comum quando equipes do tamanho do Palmeiras enfrentam azarões do naipe do Água Santa. Neste domingo, o Verdão terá a seu favor um estádio lotado de palmeirenses apaixonados e os vitoriosos jogadores à disposição de Abel Ferreira. O técnico do atual campeão paulista e brasileiro preferiu poupar seus titulares contra o Bolívar, em La Paz, na estreia da Libertadores. Perdeu por 3 a 1, mas aguarda a recompensa no Paulistão.
O modesto clube de Diadema, por sua vez, espera vencer o duelo contra o gigante, como fez o jovem pastor — que se tornaria rei de Israel —, segundo a Bíblia. Seria um título inédito para o Netuno, mas outros Davis já mostraram que é possível. O maior exemplo se deu contra o próprio Palmeiras. Em 1986, a Inter de Limeira venceu o Verdão no Morumbi, por 2 a 1, e se tornou a primeira campeã do interior. Em 2004, o São Caetano enfrentou o Paulista de Jundiaí na final, mas antes deixou dois grandalhões pelo caminho: o Santos, nas quartas, e o São Paulo, nas sêmis, com direito a uma goleada por 4 a 0. Por fim, o Ituano de 2014 despachou o Palmeiras nas semifinais e superou o Santos na decisão para se tornar campeão paulista.
O campeonato daquele ano foi disputado no sistema de pontos corridos, mas o penúltimo jogo do torneio teve ares de final. O Verdão só precisava de um empate contra o vice-líder, mas venceu o XV por 1 a 0, gol de Jorge Mendonça, e conquistou o Paulistão. A equipe alviverde contava com os ídolos Leão e Ademir da Guia, dois remanescentes do grande time da Academia. Foi o último título do Palmeiras antes de um incômodo jejum de quase 17 anos, que só terminaria em 1993, contra o Corinthians, seu maior rival.
Foi a primeira vez que uma equipe do interior conquistou o Campeonato Paulista. O Palmeiras era favoritíssimo, mas pesaram sobre os ombros de seus jogadores os dez anos de jejum. No primeiro jogo da decisão, disputado em 31 de agosto, no Morumbi, os dois times empataram por 0 a 0. A finalíssima ocorreu três dias depois, no mesmo estádio. Mais de 78 mil pessoas esperavam ver o Verdão sair da fila, mas Kita e Tato estragaram a festa e comandaram a vitória da Inter por 2 a 1.
A surpreendente equipe do Vale do Paraíba derrotou o Corinthians nas semifinais, mas não resistiu ao São Paulo de Gilmar Rinaldi, Ricardo Rocha e Raí. No primeiro jogo, o Tricolor venceu por 1 a 0, gol contra de André Luis após cruzamento de Zé Teodoro. O empate sem gols na segunda partida foi suficiente para a equipe dirigida por Carlos Alberto Silva conquistar o Paulistão. Os dois embates da final foram disputados no Morumbi.
O Timão chegou a temer o rebaixamento após início tenebroso, mas engatou a quinta marcha após a chegada de Vanderlei Luxemburgo e se classificou para as semifinais. Um histórico gol de Ricardinho no finalzinho do clássico com o Santos classificou o Alvinegro da capital para a final contra o bom time do Botafogo de Ribeirão Preto. O título, no entanto, foi praticamente definido no primeiro duelo, no estádio Santa Cruz. Com dois gols de Marcelinho Carioca e um de João Carlos, o Corinthians abriu 3 a 0. No Morumbi, um empate por 0 a 0 decretou o título mosqueteiro. Após a final, Doni, Luciano Ratinho e Leandro trocaram Ribeirão pelo Parque São Jorge.
Campeão do Paulistão três anos antes, o Azulão chegou perto do bicampeonato em 2007. Após vitória da equipe do ABC por 2 a 0 no primeiro confronto, disputado no Morumbi, os finalistas voltaram ao estádio do São Paulo para a grande decisão. O Peixe abriu o placar no primeiro tempo, gol de Adailton, mas a derrota pela contagem mínima ainda garantia o título ao São Caetano. O time do litoral pressionou, pressionou, até que, aos 36 minutos do segundo tempo, o jovem atacante Moraes (hoje no rival Corinthians, com o nome Júnior Moraes) aproveitou cruzamento de Kleber e fez o Morumbi explodir.
Nos anos 1970, a Ponte Preta chegou a duas finais do Campeonato Paulista com o melhor time de sua história – perdeu ambas para o Corinthians, uma em 1977 e outra em 1979. Em 2008, porém, apesar de alguns bons nomes como Elias e Renato Cajá, o time campineiro era apenas um azarão diante do Palmeiras. Comandado por Valdivia, o bom time alviverde, que despachou o São Paulo de Adriano Imperador na semifinal, ainda tinha Diego Souza, Kléber Gladiador e Alex Mineiro, além do ídolo Marcos no gol — foi o último título da carreira do “Santo”. O Verdão venceu os dois jogos da final: o primeiro por 1 a 0, em Campinas, e o segundo uma impiedosa goleada de 5 a 0, no Palestra Itália.
Neymar conquistou seu primeiro título como profissional contra um adversário sem muita tradição, mas com qualidade de sobra. Após vitória por 3 a 2 no Pacaembu, o título peixeiro parecia encaminhado, já que o time poderia até perder por um gol na finalíssima — o regulamento dava vantagem ao time de melhor campanha na decisão. No entanto, o segundo duelo no estádio municipal foi acirradíssimo. O eletrizante primeiro tempo terminou 3 a 2 para o Ramalhão, apesar de ótimas exibições de Ganso e, principalmente, Neymar, autor de dois gols. Na etapa final, o Peixe, com dois jogadores a menos (foram três expulsos do lado alvinegro e um na equipe do ABC), segurou uma intensa pressão andreense. Uma das cenas mais marcantes foi a recusa de Ganso ao ver a plaquinha com o número 10 na beira do campo. Ele bateu o pé, recusou a substituição e comemorou em campo o título conquistado apesar da derrota.
O Bugre estava longe dos anos de ouro das décadas de 1970 e 1980, mas fez bela campanha em 2012 — com direito a vitória sobre o Palmeiras nas quartas de final — e se classificou para a decisão. Na final, no entanto, não deu graça. O duelo foi praticamente decidido no primeiro jogo, que terminou com vitória do Peixe por 3 a 0 (um gol de Ganso e dois de Neymar). O segundo jogo, também disputado no Morumbi, terminou em 4 a 2 para o Santos, com mais dois tentos na conta do atual camisa 10 do PSG. Neymar foi o artilheiro daquele Paulista, com 20 tentos.
Se em 2002 o Ituano foi campeão paulista sem vencer os grandes do Estado, que disputaram o Rio-São Paulo naquele ano, 12 anos depois a história foi diferente. Na primeira fase, o Galo de Itu ficou à frente do Corinthians e eliminou a equipe do Parque São Jorge. Na semifinal, um gol do atacante Marcelinho no fim do jogo despachou o Palmeiras. O Peixe, já sem Neymar, mas como um promissor Gabigol no ataque, foi o adversário na decisão, que teve Cícero como vilão santista — ele desperdiçou uma cobrança de pênalti no tempo normal do segundo duelo. Após dois jogos no Pacaembu, com um 1 a 0 para cada lado, a equipe do interior levou o troféu nos pênaltis.
O Paulista de 2016 revelou para o futebol nacional o técnico Fernando Diniz. Com sua já tradicional “saidinha” e um toque de bola envolvente, seu Audax revelou jogadores como Tchê Tchê e Camacho e chegou à final passando por São Paulo, nas quartas, e Corinthians, nas sêmis. Na decisão, o Santos conseguiu o empate no primeiro jogo, disputado em Osasco, a dez minutos do fim. Dorival Júnior resolveu trocar o esquema para o segundo jogo e não pressionar o adversário na saída de bola, evitando a concessão de espaços. Deu certo, e o Peixe venceu a finalíssima por 1 a 0, com um golaço de Ricardo Oliveira.
O Timão iniciou o Paulista de 2017 sendo chamado de quarta força do futebol paulista, mas não encontrou nenhum dos supostos três times mais fortes (São Paulo, Palmeiras e Santos) na decisão. Quem fez a final contra o time comandado por Fábio Carille foi a Ponte Preta, 40 anos depois da inesquecível final de 1977. Desta vez, a Macaca não deu tanto trabalho. No Moisés Lucarelli, Jadson e Rodriguinho deram show na vitória corintiana por 3 a 0. No segundo duelo, o empate por 1 a 1 garantiu ao Corinthians o primeiro título em sua arena.
Fonte: jovempan
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