O Palmeiras encara o Chelsea neste sábado, 12, no estádio Mohammed Bin Zayed, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes em busca de uma das maiores glórias de sua centenária e vitoriosa história. Uma dúvida, porém, permeia este jogo: se vencer, o clube conquistará título inédito do Mundial de Clubes ou vai comemorar o bicampeonato do torneio? Em sua última atualização oficial sobre o tema, realizada há cinco anos, a pedido da Conmebol, a Fifa promoveu a unificação da Copa Intercontinental (1960 a 2004) com sua competição atual, mas ignorou a Copa Rio. Nos últimos dias, no entanto, a entidade que rege o futebol afirmou em duas oportunidades que o torneio conquistado pelo Alviverde em 1951 foi um “campeonato mundial”, reacendendo o polêmico debate entre palmeirenses e seu rivais e mostrando certa bipolaridade em relação ao assunto. Independentemente da chancela da Fifa, a torcida do Verdão não costuma titubear e celebra com orgulho o troféu obtido na metade do século passado.
O motivo do entusiasmo da torcida palestrina não se limita ao descontentamento com a música inventada pelos rivais. A Copa Rio de 1951, de fato, contou com ingredientes especiais. Idealizada por Mário Leite Rodrigues Filho, jornalista que hoje batiza o estádio do Maracanã, a competição foi apoiada pela Prefeitura do Rio de Janeiro e por Ottorino Barassi, então secretário-geral da Fifa e entusiasta de um campeonato mundial entre equipes. No entendimento de Mário Filho, o Brasil precisava dar uma guinada após a seleção perder a Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai, justamente no principal estádio do país, no Rio de Janeiro, na derrota que ficou conhecida como “Maracanazo”. A intenção era organizar um torneio com 16 times, mas os problemas de logística da época derrubaram a ideia. Ainda assim, Juventus (vice italiana), Palmeiras (campeão paulista), Vasco (campeão carioca), Áustria Viena (campeão austríaco), Sporting (campeão português), Estrela Vermelha (tricampeão da Copa da Iugoslávia), Nacional do Uruguai (campeão uruguaio) e Nice (campeão francês) foram convocados.
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“Os critérios foram bem definidos para essa competição, que também levava o nome de Torneio Internacional de Clubes Campeões. O grau de dificuldade demonstra o relevo desse torneio”, disse o historiador do Palmeiras, Fernando Galuppo, em entrevista concedida à Jovem Pan no ano passado. “A Juventus tinha como base vários jogadores da seleção italiana, como Carlo Parola, Ermes Muccinell, Giampiero Boniperti, Karl e John Hansen, além do Praest, artilheiro da competição, jogador de alto nível. Os times da França e da Iugoslávia eram base das suas respectivas seleções. O Vasco era aquele time chamado de Expresso da Vitória, sendo a base da seleção da Copa com Barbosa, Danilo Alvim, Eli, Augusto, Maneca… O Nacional também tinha jogadores que atuaram na Copa de 50, como Júlio Pérez, José Santamaria e outros. Já o Sporting tinha atletas muito expressivos na Europa, entre eles, uma curiosidade: o pai de Jorge Jesus, técnico que brilhou no Flamengo e com história consagrada no futebol português. O Palmeiras tinha um grupo já firmado, com conquistas expressivas no cenário nacional, contando com Juvenal e Jair Rosa Pinto, que disputaram o Mundial de 50, além de Rodrigues, Oberdan, Canhotinho, Lima… Um grande esquadrão”, destacou.
O mundo pintado em verde e branco: Palmeiras, 1º campeão mundial em 1951! #Palmeiras101anos pic.twitter.com/EmH4NIleYq
— SE Palmeiras (@Palmeiras) August 25, 2015
Mesmo com comprovada importância e a despeito do que dizem as matérias veiculadas no próprio site da Fifa, o atual presidente da entidade, Gianni Infantino, já afirmou que a Copa Rio de 1951 não foi unificada ao atual Mundial de Clubes. “Vamos conversar de futebol, isso é o mais importante. O título mundial do Palmeiras… Para os milagres, tem que perguntar para outro, não para mim. Não está como tema. Temos que falar do futuro mais que do passado”, disse o mandatário, rindo bastante, na posse do então presidente da CBF, Rogério Caboclo, em 2019. No mesmo ano, em encontro com o presidente Jair Bolsonaro, Infantino voltou a ser questionado sobre o tema. “Já decidimos dar o título de campeão mundial a todos que ganharam a Copa entre Europa e América do Sul desde 1960. E 1951 é um pouquinho mais para trás. Vamos falar com o presidente Bolsonaro e vamos ver que solução teremos. Mas o Palmeiras pode ganhar o próximo Mundial de Clubes. Por que não?”.
Para Mauro Beting, a discussão sobre o torneio ser ou não um Mundial de Clubes é válida. Apesar disso, o comentarista do Grupo Jovem Pan considera que nenhum time reconhecidamente campeão do mundo enfrentou mais dificuldades do que o Palmeiras de 1951. “Uma coisa é fato: foi a primeira conquista intercontinental de um time brasileiro. O Palmeiras entrou com a bandeira do Brasil debaixo do próprio escudo e as mais de 116 mil pessoas presentes no Maracanã não gritavam ‘Palmeiras’. Gritavam ‘Brasil’. Fosse o Vasco, Corinthians ou qualquer outra equipe brasileira, teria o apoio do Brasil e de toda torcida de São Paulo, porque, quando o Palmeiras retornou do Rio, o Trem de Prata, que passou por várias cidades fazendo festa, recebeu quase 1 milhão de pessoas nas ruas, sendo parabenizado por presidentes de Corinthians, São Paulo, Santos, Portuguesa e outros times”, ilustrou Beting. “Se é ou não Mundial, é uma longa e gigantesca discussão. O que não dá é para menosprezar a Copa Rio de 51. Desde, 1960, quando tivemos o primeiro Mundial Interclubes, até 2004, passando pelo título conquistado pelo Corinthians em 2000, e a unificação dos Mundiais a partir de 2005, nenhum torneio foi tão longo para sacramentar um campeão quanto o de 51, com sete jogos até a taça e grandes adversários”, completou.
Fonte: jovempan
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