A incerteza sobre o destino do Recinto Mello Moraes tem preocupado quem usa e depende do espaço para alguma atividade, como é o caso de Vilson Petrocelli Bosqui, de 19 anos, considerado o único paratleta oficial do paratambor em Bauru. Com 11 troféus nas mãos e o sonho de um dia chegar a uma paralimpíada, o jovem realiza aulas gratuitas no espaço, com cavalo doado e até apoio da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), mas teme ficar sem o local para os treinos e ver toda sua evolução "ir por água abaixo".
O temor, aliás, não é só dele, mas de toda a equipe que o treina e a família, que acompanha de perto o progresso do jovem, diagnosticado com a síndrome de Irlen, uma alteração na percepção visual, que tem como consequências a dificuldade de aprendizagem a deficiência intelectual.
SUPERAÇÃO
Mãe do paratleta, Renata Alexandre Petrocelli, 50 anos, conta que o filho iniciou na equoterapia há aproximadamente 2 anos, mas tomou gosto e virou atleta de três tambores e seis balizas há um ano, após apoio de uma rede de amigos que inclui o Centro de Equoterapia Bauru (instalado hoje na Sociedade Hípica e filiado à Associação Nacional de Equoterapia), a VS Treinamentos e a Associação Rural do Centro-Oeste (Arco), que gerencia o uso e preservação do recinto.
"Ele tinha problemas no equilíbrio, na coordenação, ansiedade e não conseguia focar em atividades. Mas, depois dos cavalos, tudo mudou. Ele melhorou muito isso tudo, ganhou autoconfiança, autoestima, equilíbrio físico e emocional, passou a fazer mais amizades, a sair com amigos e até viajou sem a família", elenca Renata.
Uma das últimas conquistas de Vilson, inclusive, foi acessar o mercado de trabalho, como auxiliar de produção em uma indústria alimentícia de Bauru, por meio do programa jovem aprendiz. Semanalmente, ele concilia os treinos, na arena coberta e inaugurada recentemente no recinto, com o trabalho.
"Se os treinos não puderem ser mais lá, ficará impossível conciliar, porque teria que ser fora da cidade", comenta a mãe, explicando que o rapaz, geralmente, se desloca de ônibus urbano até os treinos. O espaço também abriga treinamento de outras 25 crianças, que atuam nos três tambores e seis balizas.
"O recinto é praticamente minha segunda casa, não quero que termine isso, eu gosto muito", ressalta o paratleta.
INCENTIVO
Desde o ano passado, Vilson participa de competições, o que fez com que ele também superasse as dificuldades de apresentação em público. "Eu quero evoluir mais", projeta o jovem, falando com orgulho dos 11 troféus que recebeu em encontros nacionais e do sonho de chegar a uma paralimpíada com mais aprendizados.
Treinador dele, Vagner Simionato conta que as categorias específicas para paratletas passaram a ser criadas e incentivadas nos últimos três anos. "Hoje, vários municípios já investem. Penápolis, Araçatuba e Presidente Prudente, por exemplo, têm equipes de paratletas que levam o nome das cidades Estado afora. Bauru tem potencial, mas é preciso valorizar. Aliás, somos a cidade do maior patrimônio genético do Quarto de Milha, daqui saem cavalos para o País todo", aponta o profissional, que possuí título de 2.º maior ganhador das provas de três tambores da ABQM.
IMBRÓGLIO
De propriedade da prefeitura, o recinto é gerenciado há quase 50 anos pela Arco. O último contrato de concessão, que teve 10 anos de validade, venceu e o uso do espaço será submetido a uma licitação. O valor que a prefeitura pensa estabelecer, contudo, já gerou controvérsias por ser alto e a Arco considerar insustentável, o que abriu incertezas sobre o futuro e preservação do espaço.
Integrante da equipe que treina Vilson, a fisioterapeuta e coordenadora do Centro de Equoterapia de Bauru, Sabrina Breslau, conta que as entidades tentam, há cerca de 10 anos, dialogar com o poder público para implantar e expandir projetos como o que paratleta participa.
"Queremos ajudar a formar mais Vilsons, tornar este espaço em um centro de treinamento de paratletas. A ideia é atender alunos das escolas do município. O Vilson é a prova de quanto a equoterapia e os treinos ajudam. Seria uma boa oportunidade para autistas, pessoas com síndrome de down, paralisia cerebral...", frisa Sabrina.
A prefeitura não se manifestou sobre o assunto.
Fonte: jcnet
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