04 de Dezembro de 2024

Pesquisa: muito doce afeta a saúde mental


Em excesso, o açúcar contribui para uma série de patologias. É o que mostram as evidências científicas divulgadas nos últimos anos. Até aí, nenhuma novidade, mas você sabia que esse consumo elevado é um fator de risco para o surgimento de transtornos mentais?

"O açúcar é um agente inflamatório para o organismo. E quando há uma inflamação ela também acomete o sistema nervoso central. É uma inflamação generalizada, e todos os transtornos psiquiátricos têm sido bastante relacionados a essa questão", afirma Eduardo Perin, psiquiatra, especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da USP.

No sistema nervoso central há células que fazem parte do sistema imunológico do cérebro, e quando essas células inflamam por excesso de açúcar ou demais razões, elas atacam os neurônios. "Isso está cada vez mais sendo comprovado", diz Perin.

> Como o açúcar "inflama" o cérebro

O excesso de açúcar faz o pâncreas fabricar muita insulina e, com o tempo, o corpo começa a criar resistência a esse hormônio. Esse processo faz com que haja o acúmulo de gordura na região do abdome. "Quando acumulamos muita gordura nessa região, as células de gordura fabricam substâncias inflamatórias. Então, na verdade, o excesso de açúcar é a ponta do iceberg", diz Andressa Heimbecher Soares, médica endocrinologista, membro da (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). Em seguida, essas substâncias circulam na corrente sanguínea e agem no organismo inteiro, embora o fígado seja o mais acometido. Frederico Porto, médico psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, nutrólogo e professor convidado da Fundação Dom Cabral (MG), explica que quando o corpo está em um estado pró-inflamatório, as substâncias chamadas citocinas (proteínas que modulam a função das células) atravessam a barreira hematoencefálica - uma espécie de filtro entre os vasos cerebrais e o próprio cérebro -, e inflamam o órgão, favorecendo o surgimento de doenças. Há, entretanto, outras hipóteses para explicar essa relação entre o cérebro e o açúcar. Adiel Rios, mestre em psiquiatria e atual pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, diz que evidências recentes indicam que a interação intestino-cérebro é modulada pela composição da microbiota intestinal (micro-organismos que habitam o intestino), que é fortemente influenciada pelo excesso de açúcar.

> Quais transtornos o excesso de açúcar pode causar?

Em geral, todos os transtornos psiquiátricos podem ser agravados ou até surgir com a ingestão descontrolada. Segundo Porto, por exemplo, há indícios de que a depressão é decorrente do processo inflamatório no corpo. Quadro semelhante ocorre com a ansiedade, na qual a má alimentação também é apontada como um dos fatores de risco. Artigo publicado no periódico Scientific Reports analisou a associação do consumo de açúcar de alimentos e bebidas com a ocorrência de transtornos mentais comuns em mais de 5 mil homens e mais de 2 mil mulheres, por um período de 30 anos, entre 1983 e 2013. Ao final do trabalho, os homens que consumiram muito açúcar tiveram um risco aumentado em 23% de ter transtornos como ansiedade e depressão após cinco anos. E homens e mulheres com transtornos de humor e alto consumo de açúcar também tiveram maiores riscos de apresentarem depressão recorrente. A orientação da OMS é de que o consumo de açúcar não ultrapasse 10% das calorias diárias. Considerando uma dieta de 2000 calorias, essa taxa equivale a 50 gramas de açúcar por dia (cerca de 10 colheres de chá).



Fonte: JC Net

Fonte: jcnet

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