O Campeonato Brasileiro de 2022, marcado para começar em 9 de abril, pode contar com até nove treinadores estrangeiros. Entre os clubes da elite do futebol nacional, já são liderados por gringos o Flamengo (Paulo Souza/Portugal), o Palmeiras (Abel Ferreira/Portugal), o Corinthians (Vitor Pereira/Portugal), o Atlético-MG (Antonio Mohamed/Argentina), o Fortaleza (Juan Pablo Vojvoda/Argentina), o Internacional (Alexander Medina/Uruguai), Coritiba (Gustavo Morínigo/Paraguai) e o Santos, que anunciou o argentino Fabián Bustos nesta sexta-feira, 25. Além desses oito times, o Botafogo, que está sem técnico, também está à procura de um “professor” de outra nacionalidade. Mas, afinal, por que os dirigentes estão olhando para profissionais de outros países?
A quantidade de treinadores estrangeiros no Brasil “explodiu”, de fato, após a passagem do português Jorge Jesus, que encantou o país ao fazer o Flamengo praticar um bom futebol e ganhar cinco títulos em um ano (Libertadores, Brasileiro, Carioca, Recopa Sul-Americana e Supercopa do Brasil). Antes do “Mister” desembarcar no país, levantando dados de 2012 a 2019, a média era de 1,75 técnicos gringos por temporada. Depois da chegada do português, nas últimas duas temporadas, a média subiu para 10. Para Mauro Cezar Pereira, comentarista do Grupo Jovem Pan, a procura dos clubes por profissionais de outras nacionalidades deve-se ao despreparo e baixo nível dos treinadores do Brasil.
“Os treinadores brasileiros, no geral, são fracos e foram superados pelos estrangeiros. Os técnicos do Brasil são acomodados e, intelectualmente, muitos são fraquíssimos, sem conseguir acompanhar a modernização no futebol. Eles viviam com salários altíssimos graças a uma dança de cadeiras. Agora, acabou a reserva de mercado. E essa lei, que foi criada a partir de movimentos de treinadores para defender reserva de mercado, não existe mais. Eles não são capazes de abrir mercado na Europa, não tem mercado no Oriente Médio, que atualmente contrata europeus, e alguns ganham bem, mas são incapazes de tirar um tempo para fazer um curso da Uefa, como o Tite fez. Eles têm condições de fazer, já que ganham cerca de R$ 400 mil por mês. Por que será que estão contratando portugueses? Eles são melhores. Há um grande corporativismo pelos técnicos brasileiros, e eles estão pagando pela própria acomodação e incapacidade”, analisou o jornalista.
Treinador do Bolívar, clube boliviano pertencente ao Grupo City, o brasileiro Antônio Carlos Zago tem outra opinião. De acordo com o técnico, que coleciona passagens por Palmeiras, Internacional, RB Bragantino e outros times nacionais, a ambição por técnicos de fora do país trata-se de um “modismo” e não é uma tendência que veio para ficar. “Sempre que cai um treinador, todos já começam a falar dos estrangeiros, como se fossem mudar o futebol de uma hora para outra. Não vejo desta maneira. Às vezes, os clubes contratam de qualquer maneira, sem um critério. Contratam treinadores que não se encaixam com o elenco. Então, não vejo nada contra, até porque sou estrangeiro na Bolívia, mas, no momento, vejo como ‘modismo'”, classificou o ex-zagueiro, que vê os trabalhos de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli como os únicos que impactaram o futebol brasileiro.
“O impacto, até o momento, foi somente do Jorge Jesus no Flamengo, que fez o time jogar. Ele fez com que os jogadores apresentassem um bom futebol, sendo competitivo e ganhando bastante. O Sampaoli, quando passou pelo Brasil em 2018, principalmente no Santos, fez o time jogar futebol como gosta o torcedor brasileiro. Eles fizeram algo a mais em relação ao jogo. Quanto aos resultados, o Abel Ferreira conseguiu mais do que os outros”, comentou Zago, que foi auxiliar na Roma (Itália) e no Shakhtar Donetsk (Ucrânia), além de ter treinado o Kashima Antlers (Japão). Para ele, os brasileiros não estão defasados em relação aos estrangeiros. “Há dez ou quinze anos atrás, nós não tínhamos cursos da CBF tão bons. Não vejo os técnicos brasileiros atrás de argentinos e portugueses”, acrescentou o treinador, que tem licença da Uefa.
Ex-treinador das categorias de base de Palmeiras e Vitória, João Burse segue a mesma linha de Antônio Carlos Zago e pede oportunidade aos brasileiros. “A gente não pode esquecer que temos grandes profissionais, treinadores de bons currículos e muitas histórias, que fazem bons trabalhos. Também temos uma nova geração de técnicos chegando às equipes profissionais, seja os treinadores que ficaram por anos nas categorias de base ou aqueles que encerraram a carreira como jogador e buscaram conhecimento para chegar aos times. Temos também alguns técnicos que fazem bons trabalhos mesmo sem ter experiência no futebol, demonstrando isso em competições importantes. A gente vive uma grande busca por treinadores no país, mas a gente só vai conseguir colocar treinadores em grandes equipes através de oportunidades. Precisamos de oportunidades. Mais do que nunca, só vamos fortalecer o futebol no nosso país se a gente formar mais treinadores, olhando para dentro, não somente para fora”, comentou o profissional, atualmente no Cianorte-PR.