O preconceito racial e a desigualdade de direitos sempre levaram a população negra ao adoecimento físico e mental. Nesse sentido, psicólogos se especializam para atender este perfil de paciente. Em entrevista à Jovem Pan News, Tamires relatou o preconceito que sofre por ser negra e mãe de duas crianças brancas: “A gente estava dentro da lotação e uma moça chegou e perguntou se eu fazia trabalho de babá”. Essa é uma das muitas situações que chegam até a psicóloga Shenia Karlsson, co-fundadora do “Papo Preta: Sáude e Bem Estar da Mulher Negra”, que relatou como é o cotidiano dos atendimentos: “São mulheres que chegam extremamente exaustas, extremamente sofridas e machucadas. Mulheres que chegam com processos depressivos de muito tempo e sem tratamento, ou chegam hipermedicalizadas. São mulheres que chegam com muitos sintomas somáticos, como dores, com muitas somatizações. São mulheres que chegam com muita angústia e falta de perspectiva de vida”.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, 62% das mulheres vítimas de feminicídio são negras. Além disso, mulheres pretas e pardas ganham menos da metade do que homens brancos que exercem a mesma função e o equivalente a 60% dos rendimentos das outras mulheres, aponta a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Mesmo com dados que mostram como mulheres negras são o principal alvo da violência real e simbólica, o atendimento especializado em saúde mental ainda é incipiente, como explica Shenia Karlsson, que defende formação qualificada e treinamento para o acolhimento dessa população: “Agora temos a sorte das universidades estarem acordando para essa necessidade e estarem incluindo em seus currículos questões étnico-raciais para serem discutidas e poder ajudar os psicólogos em suas práticas. O Conselho Regional de Psicologia também tem a cartilha de como se deve receber pessoas negras e racializadas em consultórios, clínicas, associações e instituições”.
“Falar sobre as questões antirracistas e falar sobre racismo é imprescindível, embora a gente tenha evitado falar de racismo há muito tempo. Falar abertamente, por mais que seja incômodo, é um caminho de cura social e coletiva”, declarou. A psicóloga também ressaltou que historicamente o preconceito racial influencia diretamente no adoecimento psicológico, em especial das mulheres pretas, que são vistas pela sociedade como cuidadoras, mas nunca como pessoas que também merecem cuidado: “Historicamente nosso corpo não é visto como corpo humano, e sim como corpo de trabalho. O corpo de trabalho não pode adoecer. Nunca fomos vistas como um corpo merecedor de cuidado. E sim para cuidar de todas as outras pessoas, da casa das outras pessoas, dos ambientes de trabalho das outras pessoas e das famílias das outras pessoas. De uma certa forma, como isso está no discurso e na linguagem, as mulheres negras infelizmente também introjetaram essa realidade”.
Fonte: jovempan
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