A movimentação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em busca do maior número possível de alianças tem como pano de fundo o esforço do PT em vencer as eleições deste ano ainda no primeiro turno, o que não ocorreu nem mesmo quando a sigla esteve no poder e buscava a reeleição. Neste sentido, a retirada das candidaturas de Pablo Marçal (PROS) e do deputado federal André Janones (Avante-MG) é vista como uma espécie de trunfo por coordenadores da campanha do petista. Além disso, os petistas avançam na direção do MDB e do PSD, conquistando apoios em alguns Estados, como nos casos do Rio de Janeiro, onde os emedebistas decidiram caminhar com Lula apesar da candidatura da senadora Simone Tebet, e do Mato Grosso, onde o ex-presidente fechou um acordo para apoiar a candidatura do deputado Neri Geller (PP-MT) ao Senado. Nas próximas semanas, porém, a sigla deve intensificar um assédio aos eleitores do ex-ministro Ciro Gomes, do PDT. Os dirigentes da legenda evitam falar sobre o assunto publicamente, sob o argumento de que a movimentação poderia servir de munição para o pedetista, mas aliados de Lula apostam que, caso as próximas pesquisas de intenção de voto indiquem a possibilidade de vitória em primeiro turno, eleitores de Ciro podem mudar de lado para apoiar o candidato do Partido dos Trabalhadores.
Em conversa com a Jovem Pan, um dirigente do PT cita o exemplo de Geraldo Alckmin (PSB), escolhido para vice na chapa do ex-presidente, na eleição de 2018. O ex-governador de São Paulo, então filiado ao PSDB, passou a campanha oscilando entre 8% e 10%, desidratou às vésperas do primeiro turno e recebeu 4,76% dos votos válidos no dia 7 de outubro daquele ano. A título de comparação, pesquisa Datafolha divulgada no dia 4 de outubro apontava o tucano com 8%. À época, a cúpula do PSDB atribuiu o resultado ao voto útil no então deputado Jair Bolsonaro por parte daqueles que o escolheriam no segundo turno. Em entrevistas recentes, Ciro Gomes tem feito duros ataques a Lula. Na sabatina da Globo News com presidenciáveis, o ex-ministro disse que aceitaria o apoio do ex-presidente em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, mas rechaçou a possibilidade de apoiar o PT. “Se eu for para o segundo turno contra Bolsonaro? Claro que eu aceito [o apoio de Lula]. O contrário não há mais caminho”, disse Ciro, para quem “o maior responsável pela tragédia que está acontecendo no Brasil chama-se Luiz Inácio Lula da Silva”. O ex-deputado Jilmar Tatto, secretário nacional de comunicação do PT, diz que o partido não vai dar “palco para os ataques de Ciro”, mas reconhece que o o candidato do PDT “vai ser vítima do voto útil”. “O Ciro está sendo o Ciro. O PT não vai responder a ele. O eleitor vai responder a ele. O eleitor tem discernimento suficiente para ver que, sabendo que só há dois candidatos competitivos, Lula é a alternativa. Na reta final, o eleitor vai fazer voto útil. Ele quer que a gente responda, mas o Ciro vai ser como rabo de cavalo: vai crescer para baixo. Vai ser vítima do voto útil, porque o eleitor dele quer mudança e vai sentir que Ciro não tem perspectiva de vitória. O cirista não quer Bolsonaro e vai migrar naturalmente para Lula, a expectativa é essa”, disse à reportagem.
De acordo com a pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada no dia 28 de julho, Lula tem 47% das intenções de voto, ante 29% de Bolsonaro. O ex-presidente tem 52% dos votos válidos, ou seja, se a eleição fosse hoje, o petista venceria em primeiro turno. O levantamento também mostra o candidato do PT como segunda opção de eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes. Entre aqueles que preferem o pedetista, que somou 8% das intenções de voto, 36% escolhem Lula como segunda opção – 17% migrariam para Bolsonaro. Entre os apoiadores de Tebet, que somou 2%, 33% mudariam para Lula. A conquista dos votos do ex-ministro também é vista como um trunfo para um eventual segundo turno contra o atual presidente da República. Na avaliação de petistas, avançar sobre o eleitorado cirista é fundamental para ampliar a vantagem do ex-presidente e dificultar uma virada. A pesquisa ouviu 2.556 pessoas em 183 cidades do país entre os dias 27 e 28 de julho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-01192/2022.