Contrariando todas as especulações que haviam sobre o que poderia acontecer no dia 9 de maio, durante o desfile do Dia da Vitória na Rússia, a única coisa que o presidente Vladimir Putin fez foi justificar guerra na Ucrânia alegando que Kiev preparava um ataque contra os separatistas pró-Rússia no leste do país e queria desenvolver a bomba atômica, além de receber o apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ele também culpou o Ocidente pela invasão à Ucrânia, falando que eles estavam preparando uma invasão dos territórios históricos da Rússia, incluindo a Crimeia, e defendeu a “operação militar” realizada na região desde o dia 24 de fevereiro. “Estava sendo formada uma ameaça totalmente inaceitável, diretamente, em nossas fronteiras”, disse o mandatário, que classificou a ofensiva como resposta preventiva. “Se houvesse uma única oportunidade de resolver este problema por outros meios, pacíficos, é claro que o aceitaríamos, mas eles não nos deixaram esta opção, simplesmente não nos deram”, alegou. “Foi a única decisão correta possível”, acrescentou Putin aos mais de 11 mil soldados russos presentes. “Vocês lutam pela pátria, por seu futuro”, declarou.
As falas do chefe de Estado foram bastante ligadas ao conflito do Leste Europeu e pouco tempo foi destinado para falar sobre a Segunda Guerra Mundial, que os russos consideram como “Grande Guerra Patriótica”. Durante o depoimento, Putin ressaltou que não há dúvida de que o país vai cumprir seus objetivos em sua ofensiva militar na Ucrânia e que todos os planos estão sendo implementados. ” O resultado será alcançado, não há dúvida sobre isso”, disse Putin após um desfile militar na Praça Vermelha por ocasião do 77º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazista. O presidente russo fez estas declarações apesar de ainda não ter conseguido tomar o controle da região ucraniana de Donbass após mais de dois meses de guerra.
Pela primeira vez desde 2019, Putin participou do Regimento Imortal, um desfile pelas ruas de Moscou e outras cidades do país nas quais os russos carregam fotos de seus parentes que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Está é sexta vez que ele participa da marcha. Nesta ocasião, ele se juntou à coluna na Praça Vermelha carregando, como é tradicional, um retrato de seu pai, que foi combatente na Segunda Guerra. O líder russo aproveitou o momento para conversar com o pai do soldado Vladimir Zhoga que morreu no dia 5 de março em Volnovaja, na região de Donetsk, e afirmou que “os meninos estão lutando de forma corajosa, heroica e profissional”.
O chefe do Kremlin presenteou o pai do soldado falecido com a estrela de Herói da Rússia. “Deus queira que não percamos mais nossos entes queridos e amigos, que o preço desta vitória seja menor, mas a vitória seja nossa”, disse o pai de Zhoga, que também é militar, segundo a agência de notícias “Interfax”. A Rússia não divulga dados sobre o número de soldados mortos na Ucrânia desde 25 de março, quando informou que 1.351 haviam morrido. Em abril, os russos admitiram uma morte e que 27 militares estavam desaparecidos devido ao naufrágio do cruzador “Moskva”, até então o principal navio da frota russa do Mar Negro.
Se de um lado Putin está confiante sobre a vitória, do outro, Volodymyr Zelensky, também expressa a mesma confiança em guerra. Diferente de Moscou que celebrou essa data, em Kiev não houve tantas celebrações, entretanto, pouco antes do discurso do líder russo, o presidente ucraniano publicou um vídeo no qual afirmou que a Ucrânia não permitirá que a Rússia se aproprie da vitória sobre o nazismo. ‘No dia da vitória sobre os nazistas, nós estamos lutando por outra vitória. O caminho para esta vitória é longo, mas não temos dúvidas sobre nossa vitória”, declarou, em tom decidido. “Nós vencemos na época. Vamos vencer agora”, acrescentou o presidente ucraniano no vídeo em que aparece caminhando por uma avenida do centro de Kiev. “Putin deveria ter feito desfilar as dezenas de soldados russos feridos”, disse Ievguen Ienine, primeiro vice-ministro ucraniano do Interior. “Ou levar 20.000 caixões para a Praça Vermelha para que as mães russas possam ver como seus filhos morreram ou ficaram aleijados na Ucrânia”, acrescentou.
No momento em que a celebração acontecia, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que fez uma visita surpresa a Odessa, sul da Ucrânia, foi obrigado a buscar proteção devido a ataques com mísseis que aconteciam na região. De acordo com uma fonte da União Europeia, durante um encontro de Michel com o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmygal, “os participantes precisaram interromper a reunião e buscar proteção porque os mísseis voltaram a atingir a região de Odessa”. Pela manhã, durante conversa com Zelensky, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que a instituição apresentará em junho uma resposta ao pedido de adesão urgente à UE apresentado pela Ucrânia.