Tecnologia de interesse mundial e que promete revolucionar a maneira como o ser humano lida com equipamentos eletrônicos, a rede 5G passou a ser disponibilizada no Brasil nesta semana. Desde o dia 6 de julho, na última quarta-feira, Brasília passou a disponibilizar aos seus cidadãos o acesso à quinta geração da internet. A mudança deve fazer com que as conexões sejam mais rápidas, estáveis e com menos interferências do que as gerações anteriores. No médio e longo prazo, o recurso possibilitará que não apenas os telefones celulares sejam impactados com a nova rede, mas todo tipo de tecnologia ao redor do ser humano. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as próximas cidades que receberão a tecnologia serão São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa. A Jovem Pan ouviu especialistas e coletou dados para explicar qual o tamanho do impacto do novo recurso na vida dos brasileiros.
A sigla “G” refere-se à geração e o número que o antecede dita qual é a tecnologia em questão. A primeira geração da internet, chamada de 1G, funcionava de maneira analógica e permitia que cidadãos da década de 1990 pudessem utilizar os famosos celulares “tijolão”. Em seguida, no início do século 21, passou a ser disponibilizado a rede 2G que permitia ao usuário enviar mensagens de texto de maneira digital. Com o advento do 3G, o usuário passou a ter o poder de navegar pela internet nos aparelhos celulares e a realizar chamadas de vídeo. Já no 4G, com um sistema de banda larga e uma transferência de dados ainda mais veloz, foi possível ter acesso a jogos online e a serviços na nuvem – tecnologia que possibilitou o streaming, por exemplo. Com o 5G, a expectativa é de uma cobertura onipresente e com maior estabilidade, ampliando ainda mais os avanços tecnológicos.
Uma pesquisa realizada em fevereiro de 2018 pela empresa britânica OpenSignal listou quais as velocidades das redes disponíveis pelo mundo. No Brasil, a velocidade do 3G era de 8,82 Mbps (Megabytes por segundo). Em relação ao 4G, houve um aumento significativo de mais que o dobro, com 19,67 Mbps. A tecnologia 5G permite uma conexão até 100 vezes mais rápida, de 10 Gbps (Gigabyts – ou seja, 1.024 megabytes – por segundo). Para efeitos de comparação, é possível realizar o download de um filme em HD na rede 4G em 6 minutos. Com a tecnologia 5G, esse tempo cairá para seis segundos.
Engana-se, porém, quem acredita que essa tecnologia deverá desenvolver somente o setor de telecomunicações. Segundo Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa, existem determinados conhecimentos que serão potencializados através do 5G. Na parte de medicina, segundo o especialista, com uma rede mais estável e com uma velocidade exponencialmente maior, será possível que os médicos realizem cirurgias de maneira remota. No setor de serviços, pedidos de supermercado poderão ser feitos diretamente de uma geladeira conectada com a empresa distribuidora e o pagamento será realizado através do cartão de crédito cadastrado no item domiciliar. Carros inteligentes poderão estar conectados permanentemente e “conversando entre si”, de modo a aumentar a segurança e diminuir a possibilidades de acidentes. Outro benefício é o aprimoramento na gestão elétrica e com recursos hídricos, já que concessionárias poderão ter acesso a sensores mais inteligentes. “Hoje, temos um boom de tecnologias, mas não há uma rede que possa ampliar esses conhecimentos. São avanços que apenas o 5G permitirá a sua realização”, afirma.
Do ponto de vista financeiro, o economista argumenta que a implementação da tecnologia no mundo terá um impacto de US$ 13 trilhões até 2035. Com isso, há a expectativa de que 22 milhões de empregos em todo o planeta poderão ser criados através das atividades econômicas que o 5G proporcionará. Dados publicados pela Accenture, multinacional da tecnologia da informação, a disponibilização do 5G na Europa irá injetar 2 trilhões de euros no comercio continental até 2025. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) da região, há a expectativa de que seja adicionado 1 trilhão de euros. Nos Estados Unidos, a perspectiva é de que o PIB aumente em US$ 1,5 trilhão e que a economia local crie 16 milhões de empregos. Em pronunciamento realizado em 14 de setembro de 2021, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou que o governo federal estimou um investimento interno e externo de US$ 1,2 trilhão com a nova rede no país. “O Brasil não pode ficar para trás [nesse processo]. O 5G não é programa de governo, mas de Estado, para fazer nosso país ser respeitado no mundo inteiro”, declarou o governista.
Lucena ressalta que, com a realização do leilão do 5G no Brasil e a implementação em Brasília, abre-se uma chance de o pais potencializar seu crescimento e acompanhar as mudanças que ocorrem nos principais países do mundo. “Esse dinheiro [do leilão] irá para a produção de satélites, de cabeamento, por exemplo. O que irá demandar pessoas, vai puxar indústria do aço, de telecomunicações, de microchips. É uma reestruturação de toda a cadeia produtiva brasileira”, declara. O especialista também ressalta que o país pode aproveitar os investimentos para se reindustrializar. “É uma excelente oportunidade, mas será necessário que o Brasil faça o dever de casa”, alerta. Na avaliação do economista, é preciso qualificar a mão de obra brasileira para que engenheiros da informação e desenvolvedores de softwares auxiliem as empresas no desenvolvimento da tecnologia. “Acho que será uma nova revolução industrial, vai ser algo que irá alterar a maneira como percebemos a internet no dia a dia”, declara.
Realizado no dia 5 de novembro de 2021, o leilão do governo federal conseguiu arrecadar R$ 46,8 bilhões e ficou atrás apenas do leilão do pré-sal em termos de valores totais. As empresas de telecomunicação passarão a ter o controle das faixas de frequência que o sinal 5G navegará por um período de 20 anos. Empresas como a Telefônica – proprietária da marca Vivo –, TIM e Claro, que arremataram os principais lotes, também se comprometeram com a União a realizar uma série de obrigações como disponibilizar internet a todos os municípios brasileiros e, em especial, conectar de maneira satisfatória todas as escolas públicas do país.
Com a realização dos arremates das empresas de telecomunicações, estabeleceu-se via edital quais serão as obrigações das proponentes e seu cronograma de aplicabilidade dos investimentos no setor de maneira escalonável. Inicialmente, estava previsto que tanto o Distrito Federal quanto as capitais dos Estados deveriam receber, instalar e disponibilizar para os cidadãos a rede 5G até o dia 31 de julho deste ano. Devido a falta de equipamentos necessários para limpar a faixa de ondas de sinal por onde a tecnologia será transmitida, a Anatel aprovou o adiamento do prazo para 29 de setembro. Na próxima etapa, as operadoras terão de ampliar a quantidade de antenas nas capitais em todos os anos até 2025. Nos dois anos seguintes, em 2026 e 2027, os municípios com população igual ou superior a 200 mil e 100 mil habitantes deverão ser atendidas, respectivamente. Em 2028, 50% das cidades com uma quantidade igual ou superior a 30 mil habitantes receberão a tecnologia 5G e no ano seguinte, os municípios restantes receberão os equipamentos para disponibilização da rede. Ou seja, até o fim de julho de 2029, é esperado que todas as 5.570 cidades existentes no país estejam aparelhadas com a tecnologia que veio para revolucionar a forma como nos conectamos.