Tricampeão do mundo com a seleção brasileira, bi do Mundial e da Libertadores com o Santos, hexa do Brasileiro também com o Peixe, mais de mil gols na carreira. Pelé colecionou títulos, quebrou recordes e foi considerado o maior atleta do século passado. Ainda assim, o Rei do Futebol não estampou as manchetes dos jornais “apenas” por suas marcas dentro das quatro linhas. Fora de campo, o mineiro, que morreu nesta quinta-feira, 29, anos 82 anos, também acumulou polêmicas, como quando não reconheceu Sandra Regina como uma de suas filhas. Além disso, o gênio da bola foi criticado por muitos anos por ser conivente com a Ditadura Militar, ocorrida entre 1964 a 1985, e também protagonizou entreveros com Diego Armando Maradona e Romário, atual senador da República. Abaixo, confira as principais polêmicas do maior esportista do esporte brasileiro:
A principal polêmica da vida de Pelé começou em 1963, época em que defendia o Santos e teve um breve romance com a dona de casa Anísia Machado. Na época, a mulher ficou grávida do Rei do Futebol, mas o jogador não reconheceu a paternidade da criança, batizada de Sandra Regina. Mantendo distância, o mineiro foi processado em 1991 pela filha, que exigia o reconhecimento. Após seis anos de batalha judicial, o ex-atacante só assumiu a paternidade depois de um teste de DNA. Mesmo após o fim da disputa nos tribunais, Pelé não fez questão de se aproximar da filha.
Sandra Regina, que entrou para a vida política e elegeu-se vereadora na cidade de Santos, morreu precocemente, com apenas 42 anos, vítima de câncer de mama, em 2006. De acordo com o viúvo, o pastor evangélico Oséas Felinto, ela e Pelé se encontraram em apenas duas ocasiões após o encerramento do processo. Na época, ele ainda revelou que, dias antes de falecer, Sandra manifestou o desejo de receber a visita do pai no hospital, mas viu o pedido ser recusado. O Rei também não participou do velório, preferindo enviar uma coroa de flores, em nome das Empresas Pelé.
Pelé passou boa parte da vida sendo criticado por não se manifestar contra a Ditadura Militar, um dos períodos mais tenebrosos da história brasileira. Vivendo o auge da sua carreira na época, o atacante não se posicionava contra o regime antidemocrático e chegou, inclusive, a receber homenagem do presidente Emílio Garrastazu Médici, inaugurar uma praça no México a convite do governo e aceitar outros pedidos dos militares. No começo de 2021, em declaração a um documentário em sua homenagem, ele falou sobre o tema. “Se eu dissesse que não sabia das torturas, que nunca fiquei inteirado disso, estaria mentindo. Muitas coisas a gente ficava sabendo. Mas tem muitas coisas também que a gente não sabia se era verdade ou mentira. Porque o Santos estava excursionando fora do país, e chegavam notícias. Mas como você iria saber se era verdade ou mentira? Aqui, no Brasil, a gente sempre era orientado a tomar cuidado, a não sair do hotel. Eu me sentia preocupado”, disse.
Para muitos críticos, o Rei do Futebol poderia ter aproveitado mais a sua imagem para se posicionar sobre assuntos importantes para a sociedade, como o racismo, igualdade, educação. Ministro extraordinários dos Esportes durante o primeiro mandatado de Fernando Henrique Cardos, Pelé reconheceu que não aproveitou o auge da sua carreira para se manifestar sobre outros temas. “Fui covarde quando jogava. Só me preocupava com a evolução da minha carreira”, admitiu.
Pelé e Maradona, dois dos maiores nomes do futebol de Brasil e Argentina, respectivamente, nutriram uma rivalidade ao longo de muitos anos e protagonizaram algumas desavenças. Tudo começou quando o Rei, incomodado com as comparações, disse que o argentino não chegava aos seus pés. Para justificar sua afirmação, o brasileiro afirmou que “El Pibe” só marcava com o pé esquerdo, não com o pé direito ou de cabeça, e que o gol mais importante da carreira do rival foi com a mão, nas quartas de final da Copa de 86. Maradona, então, passou a alfinetar Pelé, dizendo que ele gostava “mais de dinheiro do que de dormir” e que “vendeu o coração à Fifa e à cartolagem”, em referência à proximidade do brasileiro com João Havelange e os bastidores da Fifa.
Pelé, assim, costumeiramente reagia com críticas ao “mau exemplo” de Maradona pela dependência química em cocaína. A discussão entre os craques durou anos e era sempre alimentada por imprensa e torcedores, que discutiam quem foi melhor. Em 2005, o argentino ganhou um programa de TV e chamou o brasileiro para a estreia. Juntos, eles fizeram embaixadinhas de cabeça, deram risadas e comentaram sobre futebol, política e outros assuntos, em um momento eternizado pelos fãs. O princípio de trégua, no entanto, acabou quando o Rei declarou que Neymar era melhor que Messi, ofendendo Maradona e dando continuidade às trocas de farpas. A reconciliação, de fato, aconteceu em um evento de patrocinadores, em 2017, quando os craques selaram um acordo de paz. Desde então, afagos e carinho através das redes sociais foram registrados. No dia da morte de Maradona, em 25 de novembro de 2020, Pelé lamentou e disse que havia perdido “um grande amigo” e que esperava, um dia, jogar bola no céu ao lado do argentino.
Que notícia triste. Eu perdi um grande amigo e o mundo perdeu uma lenda. Ainda há muito a ser dito, mas por agora, que Deus dê força para os familiares. Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no céu. pic.twitter.com/6Li76HTikA
— Pelé (@Pele) November 25, 2020
Pelé também se desentendeu com outro craque, mas desta vez um compatriota. Em 2005, o Rei do Futebol disse que Romário, então com 39 anos, deveria pendurar as chuteiras, entendendo que o ciclo do campeão mundial de 1994 no futebol já havia se esgotado. O Baixinho, porém, não deixou barato e disparou: “Pelé calado é um poeta. Quando abre a boca, só fala merda. Tinha que colocar um sapato na boca”, disse em entrevista à TV Globo. Nos anos seguintes, eles voltaram a se estranhar através da imprensa e das redes sociais. Em 2013, o Rei disse que o carioca era ignorante. “Tem muitas pessoas que não sabem muito o que querem e ficam atacando os outros. Mas sou católico apostólico romano e acredito que Deus sempre perdoou os ignorantes, e eu perdoo os ignorantes”, comentou na ocasião. Romário, então, rebateu. “Acho que não é tão católico quanto afirma. Se fosse, teria assumido a filha e ido ao enterro dela. Além de poeta, também é um boçal”, retrucou.
Fonte: jovempan
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