Amanda Tanaka estava no primeiro mês da faculdade quando teve Alice. A gravidez foi num período complicado. Uma semana antes do parto, o país viveu o primeiro confinamento da pandemia. Depois do período de licença maternidade, Amanda retomou as atividades e começou a dividir o tempo entre ser mãe, estudar e estagiar. Tudo isso trouxe um misto de emoções. “Eu deixo ela na escola de manhã e só volto para casa às 23 horas, 23h30. Eu chego e ela já está dormindo. Eu só a vejo uma meia hora por dia, que é a parte da manhã. E, no final de semana, quando não tenho trabalho para fazer, eu consigo aproveitar o tempo com ela, mas é difícil”, confessou a estudante. “Esse é o meu primeiro estágio. Foi a primeira entrevista que eu fiz, na verdade, e não foi perguntado se eu tinha filho ou não. Aí eu falei: ‘Ah, olha, a gente não comentou, mas eu sou mãe’. O meu chefe respondeu: ‘Mas tudo bem, né?’. Eu falei: ‘É que você não perguntou’. E ele disse que não perguntou porque, para eles, não fazia diferença. Então eu não passei por dificuldades na hora de procurar emprego, mas eu sei que existe. Eu vejo existindo”, relatou.
Só no ano passado, quando o Luca completou seis anos, Tatiana Albanês conseguiu dar início a um sonho: se formar em estética. Ela acorda às 6 horas da manhã para estudar e às 9 horas tem que estar no trabalho. Quando voltou para a sala de aula, acabou ouvindo alguns comentários por ser mãe. “Logo que o Lucas nasceu, começou a aparecer vários cursos de graduação. Na época que eu fiz, não existia, mas o mercado passou a oferecer os cursos de graduação em estética, e eu senti essa necessidade, porque os cursos foram ficando mais defasados, foram aparecendo novidades, e o mercado também pedia [a especialização”, apontou Tatiana. “Quando eu comecei a fazer a faculdade, tinha aquele julgamento. As pessoas ficavam falando: ‘Nossa, mas você tem um filho pequeno. Como vai fazer uma faculdade?'”, detalhou a esteticista.
Uma pesquisa realizada pela Tíquete revelou que 52% das mulheres que são mães já notaram algum tipo de preconceito no mercado de trabalho. Quando essa mesma questão é colocada entre os homens que são pais, o número desce para 15%. Felizmente, o mesmo levantamento mostra uma mudança de cenário: 58% de mulheres não sentiram dificuldades profissionais porque atuam em empresas que prestam apoio durante e depois da gravidez. Poliana Sena é bombeira de aeródromo no Aeroporto Internacional de Goiânia. Essa profissão, que atua na prevenção e combate a incêndio nos aeroportos, é dominada por homens. Mãe solo desde 2019, ela se equilibra entre o trabalho e os cuidados com o pequeno Theo, de dois anos. “Eu tenho que me desdobrar para subir no caminhão e me vestir dentro dele. Eu encontro também a dificuldade do preconceito, que, infelizmente, no mundo de hoje em dia, tem bastante. A gente tem que estar mostrando, a cada dia que passa, que somos capazes. Capazes de fazer um treinamento, de carregar vítima, de subir em um caminhão, de desenrolar uma mangueira… Eu tenho que estar mostrando, tanto no meu teste físico quanto no meu teste psicológico. Eu não posso me alterar porque eu sou mulher”, desabafa.
Marina Gouveia tem 29 anos e vive um cenário parecido. Incentivada pelo marido, trocou de ramo. Deixou a fisioterapia antes da pandemia e hoje é desenvolvedora de “softwares” na área de saúde. Não foi fácil conciliar a maternidade com a mudança de carreira. “São muitas linguagens de computação, tem muitas regras. Coisas novas, completamente diferente de onde eu vim. A minha dificuldade está sendo essa. E, junto, tem a maternidade, que não é fácil, ainda mais com a mudança de área, com uma criança pequena de 1 ano e 9 meses, com faculdade e trabalho. Está sendo bem desafiador, mas eu estou tentando conciliar o máximo que eu consigo”, alegou. Assim como a Marina, a Poliana se orgulha de enfrentar todos os desafios, não importa qual for. “Eu sou capaz de estar no serviço sendo mãe, não tendo uma rede de apoio, que poderia ser o pai do meu filho, mas, enfim, a minha família me ajuda. Eu tenho que estar mostrando que dou conta, que se acontecer qualquer coisa com meu filho fora do meu serviço, eu tenho com quem contar ou que posso, sim, estar dando apoio para ele, até porque eu trabalho para ele”, completou.
*Com informações da repórter Nanny Cox