Pouco após uma corrida eleitoral conturbada e uma série de acusações de fraude feitas pelo presidente Donald Trump, o dia 6 de janeiro de 2021, que formalizaria no Congresso norte-americano a vitória do democrata Joe Biden nas urnas dos Estados Unidos, foi marcado por uma violenta invasão ao Capitólio do país. Ao todo, cinco pessoas morreram no ato considerado terrorismo doméstico e, até o fim de 2021, 725 receberam acusações formais pelo envolvimento com o crime, que, para muitos, trouxe uma mancha à história da democracia ostentada pela nação. Além dos cinco mortos, mais de 100 policiais ficaram feridos nos ataques e uma verdadeira caçada foi travada contra os invasores, em sua maioria apoiadores do então presidente republicano que acreditavam em teorias da conspiração. Redes sociais e alguns canais de TV baniram as contas e coletivas de imprensa do presidente, que se recusou a aparecer na cerimônia de posse de Biden e admitiu a derrota dois dias após o crime. Um ano depois, fortes esquemas de segurança no prédio federal, um processo de impeachment frustrado e a tensão dentro do partido republicano marcam o aniversário de um ano da invasão ao Capitólio dos EUA.
Após semanas de discursos republicanos tentando desvalidar a legalidade dos votos que elegeram Biden, o dia 6 de janeiro começou com um rally pró-Trump no qual o presidente dos Estados Unidos falou por mais de uma hora aos seus apoiadores, pedindo que eles “lutassem”, repetindo informações não-verídicas sobre fraudes e falando que o vice-presidente Mike Pence, que segundo a Constituição deveria presidir a sessão e certificar a vitória do democrata, “faria a coisa certa”. Pence negou as apelações de Trump para não aceitar o resultado e no começo da tarde a concentração de pessoas diante do Capitólio começou a avançar contra a polícia. Membros que estavam na sessão foram “evacuados” às pressas para um ponto seguro dentro do Capitólio por volta das 14h15 (no horário local) e a sessão foi pausada enquanto manifestantes acessavam o local por janelas quebradas e escalavam o prédio. O então presidente dos Estados Unidos se posicionou nas redes sociais cerca de uma hora após o início da invasão pedindo que todos os manifestantes se comportassem de forma “pacífica”. Após pelo menos quatro pessoas serem mortas, o prédio foi considerado seguro por volta das 20h e a sessão de certificação da vitória de Biden foi retomada, sendo encerrada às 3h40 da madrugada do dia 7.
O discurso feito por Donald Trump poucas horas antes da invasão ao Capitólio convidando seus apoiadores a caminhar até o prédio e afirmando que “vamos parar com o roubo” foi apontado como incentivador da invasão. Imediatamente, o Facebook, YouTube e Instagram removeram vídeos com a fala e a plataforma de Zuckerberg (que também abriga o Instagram) baniu o presidente das redes por tempo indeterminado. A dias de entregar o seu cargo para Biden, a Câmara dos EUA aprovou por 232 votos a favor, 197 contra e quatro abstenções o impeachment de Trump, aberto por “incitação à violência”. Na ocasião, 10 membros do partido republicano votaram contra o presidente. Quando o projeto tramitou para o Senado, porém, ele foi rejeitado, mesmo com a maioria dos votos favoráveis. Como o placar foi de 57 votos “sim” contra 43 votos “não”, a maioria de dois terços necessária para o impeachment não foi atingida. Naquela ocasião, Trump já tinha deixado o cargo, mas poderia ser responsabilizado pelos crimes caso o parecer do Senado fosse positivo.
Para o professor de Relações Internacionais da ESPM Porto Alegre, Roberto Uebel, antes de olhar para a situação do partido Republicano, é importante olhar para a transformação da figura de Trump após a sua relutância em aceitar a derrota nas eleições. Hoje, o político tem feito aparições controversas em público, chegando a defender a vacinação e a ser vaiado por apoiadores em convenções por causa de falas “conflitantes” com outras declarações dadas por ele anteriormente. “O Trump entra em um ostracismo público e também dentro do seu partido. Vejo hoje o partido republicano querendo voltar às suas origens conservadoras, descolar da figura de Trump, que é algo que eles já faziam durante o governo dele, e tentando recuperar a imagem e o posicionamento do partido até as eleições de meio de mandato que ocorrerão em novembro, quando eles vão renovar boa parte dos assentos da Câmara dos Representantes e um terço do Senado”, afirma. O professor lembra que a votação será importante porque deve definir como os próximos anos do governo Biden serão. Caso a maioria dos assentos seja conquistada por republicanos, o democrata pode ter anos difíceis no resto do seu governo.
Fonte: jovempan
Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.