20 de Setembro de 2024

Voluntário há 71 anos da Vila Vicentina


Nascido e criado em Bauru, o aposentado Sergio Ungaro, aos 92 anos, narra com riqueza de detalhes toda sua trajetória, inclusive o dia de 1948, quando conheceu a Vila Vicentina. Dois anos depois, tornou-se voluntário. Desde então, participou de diversas ações da entidade, sendo que ainda colaborou para a criação do tradicional Churrasco da Vila Vicentina que, neste domingo (21), realiza sua 70.ª edição. Após tantas décadas, garante: "sempre usei o mesmo tempero na carne. Água, limão e sal".

Para as vivências da vida pessoal, o aposentado também desenvolveu um 'tempero' especial: bom humor, solidariedade e muita fé. Aliás, é Vicentino desde 1956. Atualmente, atua pela Paróquia do Senhor Bom Jesus. Além da dedicação à filantropia e aos empregos ligados à ferrovia, Sergio empenhou a vida em cuidar da esposa, Valentina Cassandro, com quem é casado há 70 anos; dos 12 filhos, 26 netos e 19 bisnetos - sendo que o 20.º deve nascer em março do ano que vem.

Orgulhoso com o que construiu passo a passo, ele também destaca o quanto andou a pé pela cidade. Quando trabalhava na ferrovia, por exemplo, uma de suas incumbências era ir até a casa do maquinista reserva para convocá-lo ao serviço em razão de ausência do titular. Sempre ia caminhando, independentemente de hora e distância. No serviço, também era encarregado de aferir os milímetros de chuva nos postos ao longo da ferrovia. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Jornal da Cidade - O senhor é de Bauru mesmo?

Sergio - Nascido e criado. Quando jovem, morei na fazenda da família que fica até hoje às margens da estrada Bauru-Piratininga. Quando criança, trabalhava na roça, carpindo, colhendo café. Quando tinha 10 anos, o DAE (Departamento de Água e Esgoto de Bauru) passou o encanamento de ferro que ia da ETA (Estação de Tratamento de Água) até a cidade no nosso sítio, e eu ajudei. Quando mais jovem, trabalhei em um depósito de materiais, depois consegui um emprego, em 1949, na triagem da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que ficava perto de onde está sendo construído o ginásio do Sesi Horto hoje. Tinha que ir a pé do sítio até a antiga estação, no Centro, todos os dias, para pegar o trem que seguia até o depósito. Lá, fazia a baldeação de sacos de café dos trens da Paulista para os da Noroeste. Cada vagão tinha cerca de 500 sacos de 60 quilos.

JC - O senhor trabalhou lá até se aposentar?

Sergio - Após três anos, fui trabalhar na Estação, no armazém e depois na bagagem, cuidando das encomendas que eram menores e enviadas junto com os trens dos passageiros. Pouco depois, fui transferido para o escritório, onde trabalhei até me aposentar, em 1979. Mesmo aposentado, continuei atuando pelo Sindicato dos Trabalhadores das Empresas Ferroviárias da Zona Paulista, até abril de 2001. Até hoje, ainda tenho a carteira de diretor.

JC - E como chegou na Vila Independência?

Sergio - Queria morar mais próximo do escritório. Então, comprei um terreno na Independência, fui pagando aos poucos e construí uma casa modesta lá. Mudei e fui comprando material de construção que não estragava. Quando juntei o suficiente, contratei um compadre meu que era pedreiro e, em quatro dias, transformamos a casa em tijolo no lado de fora. Depois, fomos mudando por dentro. Um fiscal apareceu e disse que eu precisava de autorização da prefeitura. Fui até o prefeito, o Nicolinha, que pegou um canetão verde e escreveu "deixa o homem trabalhar", e assinou embaixo (risos). Ninguém se meteu mais. Moro no mesmo endereço até hoje.

JC - Como conheceu a Vila Vicentina?

Sergio - Em 1948, fui até a Vila Vicentina com a minha então namorada para visitar a tia dela, chamada Andreina, que estava atuando na Vila. Ainda eram as irmãs que cuidavam do local. Na época, não tinha ônibus que parasse perto da Vila. Eu e minha esposa tivemos que descer no ponto mais próximo, em frente ao Cemitério [da Saudade], e fomos caminhando até lá. Em 1950, passei a atuar como voluntário e, em 1951, já ajudei a criar e participei do primeiro churrasco vicentino.

JC - De lá para cá, o senhor participou de todos os churrascos?

Sergio - Só em um que não, porque meu genro me levou para pescar (risos). Porém, participei de todos os outros. Ajudei também a abrir a vala onde colocamos os carvões para assar os bois. No primeiro churrasco, usamos apenas um boi. No ano seguinte, aumentou para dois, e assim foi indo até virar a tradição que é hoje. E, de lá para cá, não mudei o tempero da carne. Sempre foi o mesmo: água, limão e sal. Acredito que, se pararmos, a gente enferruja. Então não podemos parar.

JC - Foi um legado que passou de pai para filho?

Sergio - Sim. O Sérgio Luiz, meu filho mais velho, é o único envolvido com a Vila e é o atual presidente. Termina o mandato este ano. Quando você faz as coisas com boa intenção, elas dão certo. Ele é Vicentino, como eu. Me tornei Vicentino em 1956 e atuo hoje pela Paróquia Bom Jesus, na Independência, onde ajudamos 26 famílias. Ele é da Paróquia São Cristóvão, onde auxiliam mais de 90 famílias.

JC - Vejo que o senhor usa três alianças. O que elas significam?

Sergio - São celebrações do meu casamento com a minha esposa, Valentina. Todo domingo, ia à Praça da Catedral (hoje, Rui Barbosa) passear. Um dia, uma moça se engraçou comigo. Essa moça era a Valentina. Somos casados há 70 anos.



Fonte: JC Net

Fonte: jcnet

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