O termo workaholic, definitivamente, ficou fora de moda. Depois da pandemia e do modelo remoto, muitos trabalhadores começaram a rever seus objetivos profissionais. No início da pandemia, havia um estresse de trabalhar todos juntos num mesmo espaço. Aos poucos, os profissionais foram conseguindo se autogerenciar, até o ponto que a maioria já não quer voltar ao modelo antigo dos escritórios, diz o presidente da Randstad, Fabio Battaglia.
A questão é que, em casa, os trabalhadores passaram a fazer múltiplas tarefas, combinando atividades profissionais e pessoais, sem perder a produtividade. "Agora com o modelo híbrido, temem mudar essa nova rotina", afirma Bataglia. De acordo com a pesquisa da Randstad, 92% dos trabalhadores brasileiros querem formatos de trabalho e carreiras mais flexíveis para acomodar outras atividades ao longo do dia, enquanto a média global é 76%. "Hoje, o tema mais importante é flexibilidade", diz o executivo da Randstad.
Um exemplo disso é a bancária Carolina de Almeida Ferraz, de 43 anos. Há 20 anos no setor e há mais de 10 como gerente de contas do segmento de alta renda, ela decidiu priorizar sua saúde mental e física e passar mais tempo com as duas filhas pequenas. "Foi uma decisão difícil, fiz muitas contas, mas troquei meu cargo comissionado por outro descomissionado."
A decisão veio depois do nascimento da segunda filha e do aumento das cobranças e do nível de estresse. Segundo ela, hoje seu salário bruto é menor do que era o líquido. "Mas estou feliz, saudável e sinto que as crianças também percebem isso." O lado bom, diz Carolina, é que ela conseguiu fazer toda essa mudança e continuar na empresa. "Mas, se tivesse de trocar de emprego para ter esse benefício, eu trocaria, sem nenhuma dúvida."
O diretor regional e sócio da empresa de recrutamento de executivos Tailor, Gustavo Leme, destaca que essas mudanças chegaram aos níveis mais altos das corporações. Antes, diz ele, era complicado atrair candidatos de grandes centros para o Interior. "Hoje, mesmo quem não tem família aceita propostas para trabalhar fora das capitais como forma de melhorar o ritmo de vida."
Foi pensando nessa qualidade de vida melhor que a personal trainer Brenda Oliveira abriu mão de um trabalho fixo numa academia e ficou apenas com as aulas particulares. Apesar da incerteza financeira por não ter uma carteira assinada, Brenda priorizou o tempo para equilibrar sua vida pessoal. A decisão coincidiu com a chegada de sua irmã caçula, agora com dois meses de idade. "No ritmo que estava, não dava tempo nem de ver a bebê. E queria acompanhar a evolução dela." Além disso, diz a personal, conciliar as aulas particulares com a academia tirava tempo para coisas básicas como treinar, almoçar sossegada e se cuidar. "É claro que a questão financeira é importante, mas também tenho de pensar na minha saúde e no bem-estar." Na avaliação de Fabio Battaglia, as empresas não estavam preparadas para essa mudança tão radical, das características profissionais ou das exigências dos trabalhadores. "Agora é que começam a se ajustar a esse novo momento." Hoje, quando os recrutadores vão fazer uma entrevista, as exigências são muito diferentes das do passado. "Os candidatos querem saber se a empresa tem um propósito, se tem impacto na sociedade e, principalmente, se o modelo de trabalho é híbrido", diz Leme.
Fonte: jcnet
Utilizamos cookies próprios e de terceiros para o correto funcionamento e visualização do site pelo utilizador, bem como para a recolha de estatísticas sobre a sua utilização.