Xi Jinping foi reeleito neste domingo, 23, secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC) e ficará mais cinco anos à frente do Congresso. O resultado, que o torna o mais poderoso desde Mao Tse-Tung, que ficou no poder de 1949 até 1959, mas teve forte influência até 1976, ano de sua morte, fortalece o líder para as eleições presidenciais, em que ele já é cotado como o favorito. A reeleição do Xi Jinping já era esperada. À frente do Congresso e da China desde 2012, ele tem uma boa aprovação, apesar de, recentemente, ter enfrentado protestos contra o seu governo em razão da política de Covid-zero, que deixa o país isolado do mundo, prejudica a economia, os negócios e gera o medo do país voltar a ser o que era antes de 1970. Diante desse cenário, os especialistas apontam que os próximos cinco anos de Xi tende de ser de incertezas e instabilidades.
Em entrevista ao portal da Jovem Pan, o doutor em Ciência Política Alexandre Uehara diz que há uma grande incerteza nesse momento em relação ao governo, porque o contexto interno do país demonstra instabilidade e incerteza. O mesmo ocorre no âmbito internacional. “Diferentemente dos dois mandatos anteriores, em que a China cresceu bastante e a ideia era de como administrar riqueza, agora é de como administrar a escassez”, diz. Elias Jabbour, especialista em China e professor de relações internacionais, vê esse terceiro mandato de Xi Jinping mais como “uma resposta política para problemas que a história coloca diante da China do que uma questão moral”, diz. Os dois especialistas pontuam que é complicado prever o que vai acontecer nos próximos anos, mas Jabbour diz que os últimos dois mandatos do chinês tiveram um saldo positivo. Ele aposta que, nesses próximos anos, o país será pautado pela busca da autossuficiência tecnológica e por esse conflito iminente com os Estados Unidos – os países competem por Taiwan. A China não quer que a ilha seja independente, e os norte-americanos não querem que ela fique sobre os comandos dos chineses. Para Uehara, não está claro o que pode acontecer, porém, ele adianta sobre a necessidade de fazer com que a economia do país volte a crescer e absorva toda a população, como os jovens que tem sido deixados de lado. São quase 20 milhões de jovens desempregados. “É precisa saber como o governo chinês vai lidar com essa população sem emprego, riquezas e que pode ficar insatisfeita por estar sem trabalho e sem renda”, resume.
Conhecido a princípio como marido de uma cantora popular, Xi Jinping emergiu como um líder de aparente carisma e uma narrativa política hábil que criou um culto pessoal não visto desde os dias de Mao. Ele chegou ao poder em 2012 e era visto por alguns como o líder mais liberal do Partido Comunista Chinês por causa de seu perfil discreto e histórico familiar. Dez anos depois, a realidade é bem diferente. Embora sua família fizesse parte da elite do partido, Xi não parecia destinado a essa posição. Seu pai, Xi Zhongxun, um herói revolucionário que se tornou vice-primeiro-ministro, foi expurgado durante a Revolução Cultural de Mao. De um dia para o outro, o agora presidente perdeu seu status. Uma de suas meias-irmãs cometeu suicídio por causa das perseguições. Xi foi condenado ao ostracismo por seus colegas de classe, uma experiência que, segundo o cientista político David Shambaugh, contribuiu para “um distanciamento emocional e psicológico e autonomia desde muito jovem”.
Aos 15 anos, ele foi enviado para o centro da China, onde passou anos carregando grãos e dormindo em cavernas. “A intensidade do trabalho me impactou”, reconheceu. Também participou de sessões em que teve que denunciar seu próprio pai, como explicou em 1992 ao The Washington Post. “Mesmo que você não entenda, eles te obrigam a entender. Isso faz você amadurecer mais cedo”, comentou. O caminho para ingressar no PCC não foi tranquilo para Xi. Antes de conseguir, seu pedido foi rejeitado várias vezes devido ao legado familiar. Ele começou em um “nível muito baixo” como chefe do partido em um vilarejo em 1974. Ele trabalhou muito sistematicamente e tornou-se governador regional de Fujian, em 1999, líder provincial do partido em Zhejiang, em 2002, e depois em Xangai, em 2007. Enquanto isso, seu pai foi reabilitado na década de 1970 após a morte de Mao, o que fortaleceu sua posição.
Em nível pessoal, Xi se divorciou de sua primeira esposa para se casar em 1987 com a popular soprano Peng Liyuan, então mais conhecida que ele. Para Cai Xia, ex-líder do PCC e agora exilada nos Estados Unidos, Xi “sofre de um complexo de inferioridade, sabendo que teve pouca educação formal em comparação com outros líderes do partido”. É por isso que ele é “teimoso e ditatorial”, escreveu em um artigo recente no Foreign Affairs. Em 2007, Xi foi nomeado para o comitê permanente do Birô Político, o órgão decisório máximo da China. E cinco anos depois ele subiu ao topo, substituindo Hu Jintao. Hoje, ele é o líder mais poderoso dese Mao Tse-Tung.
*Com informações da AFP